Ajuda, contra a angústia,procurar gostar do que se faz

 
No Gestão Hoje anterior foi destacada a face positiva, alegre, satisfatória do trabalho. Algo que cada um deve constantemente buscar para que ele, enquanto instância estruturadora da vida (ver a respeito o número 446), não seja só obrigação.
Por sinal, a última frase citada no texto, do escritor russo Maximo Gorki, destaca justamente essa dicotomia inescapável do trabalho: de um lado, como prazer/alegria e de outro como dever/escravidão. Na revista Veja dessa semana, inclusive, é citada uma frase de Gilberto Braga que destaca o lado dark do trabalho:

“Trabalho para mim é uma coisa angustiante.”

Gilberto Braga, dramaturgo brasileiro

Diz-nos a psicanálise que esse componente de angústia é próprio e inseparável da natureza humana. Desde que o homem vê-se obrigado pela cultura e pela civilização a reprimir seus instintos e impulsos naturais que instala-se um inescapável mal-estar, em grande parte inconsciente, traduzido, inevitavelmente, em angústia. Ela pode ser minorada, canalizada para atividades produtivas ou afetivas mas não pode ser eliminada ou banida de nossa constituição. De uma forma ou de outra, mais ou menos intensa, sempre volta a incomodar. Daí, manifestar-se no trabalho pela importância que ele tem na nossa vida. Muito freqüentemente na forma de insatisfação com os resultados conseguidos.

“Essa angústia, essa ânsia de querer fazer tudo diferente, é uma característica do ser humano. É por isso que eu a chamo de ‘inquietação construtiva’.”

Contardo Calligaris, psicanalista italiano

Contardo Calligaris, psicanalista italiano, radicado no Brasil, na revista Você S/A de agosto/2003, dá uma interessante entrevista sobre o assunto, numa matéria intitulada, “A Angústia Faz Parte”. Defende ele a tese de que, apesar do caráter inescapável da angústia, quando reconhecida e controlável ela pode ser, inclusive, fonte de mudança para melhor na medida em que nos obriga, saindo da zona de conforto, a partir para tentar coisas novas, horizontes inexplorados.Uma forma de não sucumbir à angústia no trabalho é, como foi visto no número anterior (ver também a respeito, o número 379), procurar fazer aquilo que se gosta e, com isso, encontrar satisfação no trabalho.
Como nem sempre isso é possível, há outra forma de proceder que também ajuda. É procurar motivação com aquilo que se apresenta pela frente, que se oferece a nós como oportunidade a ser aproveitada.

“Precisamos aprender a nos motivar com o que a realidade nos oferece. Essa é, aliás, uma grande lição de sabedoria: conseguir manter-se motivado em meio à complexidade do dia-a-dia.”

Contardo Calligaris, psicanalista italiano

Esse é, sem dúvida, um procedimento importante face à dificuldade de conseguir fazer exatamente o que se gosta, sobretudo se o que se gosta é algo pouco comum ou comercializável. Como alternativa procurar gostar do que se faz é uma medida importante para se escapar de uma possível busca incansável e, com certeza, muito angustiante.

“Tão importante quanto fazer aquilo de que se gosta é procurar gostar daquilo que se faz.”

Zildo Sena Caldas, arquiteto pernambucano

Portanto, para enfrentar a inevitável angústia associada ao trabalho é muito importante procurar fazer aquilo de que se gosta e, com isso, encontrar satisfação e, até, diversão no trabalho. Na falta do alcance deste nobre objetivo, deve-se como alternativa, fazer o esforço complementar de procurar satisfação naquilo que se encontra pela frente, ainda que seja temporariamente.