No final das contas,sai mais barato dizer a verdade


O principal aspecto positivo do último escândalo político envolvendo o governo federal foi o fato de ter trazido à luz dos holofotes da mídia um dos maiores segredos de polichinelo do país: o financiamento das campanhas políticas.
“… até o gramado em frente ao Congresso Nacional sabe aquilo que o país sabe e suas elites empresariais muito mais ainda: campanhas eleitorais são financiadas dentro e à margem da lei .”
Revista Carta Capital, 25.02.2004
Fonte inesgotável de corrução pelo que enseja antes e depois das doações, enquanto a questão não for rigidamente disciplinada, as chances de moralização são remotas.
“Para cada real que passa por cima da mesa, corre outro por baixo. Qualquer organização na qual metade do dinheiro em circulação é ilegal tende a virar um antro. (…) Na fase final das grandes campanhas, para cada R$ 3 que entram (por dentro ou por fora), um voa.”
Elio Gaspari, 07.03.2004
Além do benefício de lançar luz sobre essa obscura seara pública, o recente escândalo também dá margem a algumas considerações sobre a questão da verdade e da mentira no âmbito da política e, de um modo geral, nas relações sociais. Assunto, inclusive, recém abordado em artigo pelo prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia no qual comenta livro recente (“The New Prince”) do ex-assessor de imagem do presidente Clinton, Dick Morris, tratando do tema “como sobreviver a um escândalo”.
“Não há maneira de ‘ganhar’ na cobertura de um escândalo. A única maneira de sair vivo é dizer a verdade, agüentar o tranco e avançar. (…) Uma mentira leva a outra, e o que era uma incomodidade se aproxima da obstrução criminal da Justiça.”
Cesar Maia, Folha de S. Paulo, 05.03.2004
Não só na política mas na vida social, de uma modo geral, dizer a verdade, é não apenas moralmente necessário como, até, na maioria das vezes, prático.
“Dizer a verdade tem mais uma vantagem: não é preciso lembrar-se do que foi dito antes.”
Jorge Luiz Borges, 1899-1986, poeta argentino
Na política esse princípio, todavia, não é muito bem aceito porque a versão tende a predominar.
“Na política, às vezes, a versão vale mais do que a verdade.”
Gustavo Capanema, 1900-1985, político brasileiro
Uma coisa, todavia, é certa, não é bom mentir, seja por razões morais ou pragmáticas. Por outro lado, não se pode ser ingênuo (ingenuidade não rima nem com política nem com a vida produtiva, de um modo geral) e sair dizendo a verdade de qualquer jeito. A esse respeito, já em 1771, no livro “A Arte de Calar”, podia-se ler:
“O silêncio é necessário em muitas ocasiões, mas é preciso sempre ser sincero; podem-se reter alguns pensamentos, mas não se deve camuflar nenhum. Há maneiras de calar sem fechar o coração; de ser discreto sem ser sombrio e taciturno; de ocultar algumas verdades sem as cobrir.”
Josep Antoine Toussaint Dinouart, abade francês