Participação do Brasil nas olimpíadasmostra o quanto ainda precisamos avançar


Com o encerramento das Olimpíadas de Atenas, neste domingo, o Brasil contabiliza a sua melhor campanha em jogos olímpicos com a conquista da 18ª colocação alcançada com 4 medalhas de ouro, 3 de prata e 3 de bronze.
As medalhas de ouro foram ganhas pelo iatismo (duas) e pelo vôlei masculino (de praia e de quadra). As de prata pelo vôlei de praia feminino, pelo futebol feminino e pelo hipismo. As de bronze pelo judô e, surpresa geral, inclusive pelo inusitado incidente envolvendo o atleta brasileiro que liderava a prova, pelo desempenho na maratona.
Além dessas, o Brasil ainda deixou escapar, pelo menos, mais duas medalhas de bronze (basquete e vôlei feminino) e uma de ouro na vela (classe Mistral).
O que chama a atenção na análise das modalidades premiadas é a convivência de esportes de elite como o iatismo e hipismo e, de certa forma também, o judô, com esportes coletivos e populares como o vôlei e o futebol, ainda que feminino. A exceção fica por conta da maratona.
O iatismo, inclusive, já transformado numa tradição do esporte nacional ao se constituir na modalidade responsável pela maior quantidade de medalhas ganhas pelo Brasil em jogos olímpicos (12 ao todo). O próprio Torben Grael, com a conquista da medalha de ouro na classe Star em Atenas, tornou-se o maior velejador dos jogos olímpicos e o maior atleta olímpico brasileiro em número de medalhas (2 ouros, 1 prata e 2 bronzes).
Uma curiosidade: para conseguir este desempenho o Brasil levou a Atenas a sua mais numerosa delegação olímpica. Foram 246 atletas, 124 homens e 122 mulheres.
Embora essa performance na Grécia possa ser considerada um avanço, ainda é para lá de modesta quando comparada com o desempenho de países com os quais concorremos na categoria de potência econômica emergente: China (63 medalhas) e Rússia (92 medalhas), respectivamente segundo e terceiro lugar, atrás do EUA (103 medalhas), primeiro lugar disparado em Atenas.
Inclusive, como o maior país latino-americano, em termos econômicos e populacionais (mais de 170 milhões de habitantes), o Brasil ficou atrás de Cuba, uma ilha caribenha com 11 milhões de habitantes, que alcançou o 11° lugar com 27 medalhas conquistadas.
Essas comparações deixam evidente o quanto ainda precisa ser feito em termos de incentivo ao esporte no Brasil. O aspecto positivo é o misto de constatação e promessa feita pelo ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, que se diz imbuído da missão de transformar o Brasil numa potência olímpica:
“Uma potência olímpica não nasce do dia para a noite. Se constrói na escola, é fruto de uma política de estado, um planejamento voltado para milhares de pessoas e não uma parte da população somente. (…) Acredito que em três ciclos olímpicos, contando com este, o Brasil vai possuir uma equipe altamente competitiva.”
Agnelo Queiroz, Diário de Pernambuco, 29.08.2004
Enquanto essa promessa não se cumpre, inclusive precedida da execução de toda a política de incentivo a se iniciar já agora após as Olimpíadas, segundo o ministro, cabe-nos contentar com performances excepcionais como a do time de vôlei de quadra masculino e atentar para o que disse o capitão Nalbert sobre a relevância do trabalho em equipe, tão ou mais importante, no esporte e fora dele, do que os talentos individuais:
“Não sei se é o melhor time de todos os tempos mas é o melhor grupo de todos os tempos, com certeza.”
Nalbert, GloboNews, 29.08.2004