"Choque de Gestão": o mais novomodismo político/administrativo do país


Em meio a uma das mais graves crises políticas da história recente do país, misturada na enxurrada de denúncias que brotam de todos os cantos, uma expressão vai se impondo na forma de uma idéia cuja hora, pelo que tudo indica, parece ter chegado.
“Mais forte do que todos os exércitos do mundo é uma idéia cuja hora tenha chegado.”
Victor Hugo, 1802-1885, escritor francês
A idéia é “Choque de Gestão”. Todo mundo começa a solicitar que o presidente Lula dê um “choque de gestão” no seu governo. Renan Calheiros, presidente do Senado Federal, visita o Palácio do Planalto para prestar solidariedade ao presidente da República e pede a ele para promover um “choque de gestão” no governo. O próprio presidente transfere a ministra Dilma Roussef do ministério da Minas e Energia para a chefia da Casa Civil e pede que ela promova um “choque de gestão” na administração federal. O deputado e economista Delfim Netto esboça um plano para zerar o déficit público nominal (aquele que surge depois do pagamento dos juros da dívida pública) e escreve na sua última coluna semanal:
“O governo tem dado sinais interessantes de que pretende mudar o ‘mix’ da política monetária e que o presidente Lula também está se preparando para dar um ‘choque de gestão’, com o duplo objetivo de se libertar da armadilha dos juros e pôr a administração a trabalhar na direção do crescimento.”
Delfim Netto, coluna de 29.06.2005
Jorge Gerdau Johannpeter, líder do grupo siderúrgico Gerdau, com dezesseis fábricas no exterior (EUA, Canadá, Chile, Colômbia, Argentina e Uruguai) e dez no Brasil, dá entrevista nas páginas amarelas da revista Veja e é apresentado do seguinte modo:
“O mais internacional dos empresários brasileiros diz que o país não avança sem que o Estado passe por um choque de gestão.”
Revista Veja, edição de 27.04.2005
Até o ministro da Previdência, Romero Jucá, ao tomar posse em meio a denúncias de ter dado fazendas inexistentes como garantia de empréstimos tomados a bancos públicos, promete, nada mais nada menos, que um “choque de gestão” no ministério.
Antes, todavia, destas manifestações recentes, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, pré-candidato à sucessão do presidente Lula, já havia incorporado a expressão à marca do seu governo. Nas propagandas veiculadas aparece a expressão: “Minas Gerais – o Estado do Choque de Gestão.” Lá o “choque” foi transformado em projeto de governo, com ações, metas, equipes de trabalho, seminários e tudo o mais que a imaginação publicitário-administrativa permite. Além dele, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também pré-candidato à sucessão do presidente Lula, incorporou a idéia ao seu governo e ao seu discurso, a ponto de fechar os olhos à distribuição de adesivos na cidade de São Paulo com a mensagem de duvidosa inspiração publicitária: ” O Brasil Precisa de um Gerente: Geraldo Presidente”.
É evidente que essa história de “choque de gestão” é parte de uma estratégia da oposição para contrapor-se ao governo Lula que, agora, no desespero da crise, passou a incorporar a idéia. Nada contra o tema, em si nobre, mas tudo contra a banalização que desgasta e ridiculariza assunto tão sério e importante. O risco é que com tanto choque, alguém termine eletrocutado pelo modismo.
“A razão de eu ser contra modismos é que eles fazem as pessoas pararem de pensar. Isso não significa que você não deve usá-os inteligentemente, adequando-os ao seu caso.”
Henry Mintzberg, professor de gestão canadense