Sem crescimento econômico contínuo é impossível enfrentar a insegurança pública

 
Como pode ser visto no Gestão Hoje anterior (número 584), a questão da insegurança que aflige os brasileiros não pode ser resolvida, de forma estrutural, apenas como um problema de segurança pública. Requer também, inevitavelmente, crescimento econômico continuado e educação de qualidade em horário integral (pelos menos 8 horas por dia) para todos os jovens.
Em qualquer país que se pretenda civilizado, toda criança flagrada na rua em horário escolar deve ter seus pais ou responsáveis convocados pela polícia para explicar porque aquilo está acontecendo e, ato continuo, deve ser imediatamente encaminhada de volta para o colégio. Por uma razão muito simples: lugar de jovem em idade escolar é na escola e em nenhum outro lugar.
Mas, para contar com a colaboração ativa dos pais em relação a esse tipo de procedimento civilizatório, é indispensável que haja oportunidades de trabalho para que eles não se vejam tentados a usar os filhos como agentes de complementação de renda, seja de forma lícita ou ilícita. Sem a colaboração ativa dos pais, infelizmente, manter as crianças nas escolas é uma tarefa, na prática, impossível.
E para que haja oportunidades de emprego e renda para a maioria expressiva da população, é indispensável crescimento econômico continuado por, pelo menos, 10 anos seguidos a taxas acima de 4% ao ano. Com isso, estaríamos, apenas, retomando uma situação que perdurou pela maior parte do século 20 no Brasil.
“Nosso país teve um dos maiores crescimentos do século passado, de 1901 a 2000, apesar do terreno perdido nas últimas décadas.”
Eugenio Staub, acionista majoritário da Gradiente
O problema foi que, justamente nos últimos 25 anos, o Brasil perdeu o rumo e ficou à deriva em termos de crescimento econômico.
“Nos últimos 25 anos a economia brasileira se manteve semi-estagnada, crescendo a uma taxa per capita de cerca de 1% ao ano, quando nos 30 anos anteriores crescia a 4% ao ano.”
Luiz Carlos Bresser Pereira, economista, FSP, 30.01.06
Esse crescimento pífio para um país com enormes necessidades de inclusão social como o nosso, gera uma massa imensa de desocupados que produz os fenômenos do desemprego e da informalidade (estima-se que mais de 50% dos trabalhadores brasileiros já não têm carteira assinada) e alimenta, continuamente, a marginalidade com o fornecimento de um verdadeiro exército de reserva para o crime, organizado ou não. Inclusive, pela utilização de menores de idade, que deveriam estar na escola, para a prática de atividades criminosas de grosso calibre. O documentário “Falcão — Meninos do Tráfico”, recentemente veiculado pelo Fantástico em cadeia nacional de televisão, não deixa qualquer sombra de dúvida sobre essa realidade socialmente perversa e desmoralizante para a cidadania responsável.
“Só a oportunidade de trabalhar dá dignidade ao homem.”
Delfim Netto, Veja, 26.04.06
Tudo o mais fora isso, em termos de crescimento econômico, é conversa para boi dormir. Inclusive no que diz respeito às importantíssimas mas flagrantemente insuficientes políticas compensatórias como é o caso das famosas “Bolsas” (Escola, Família etc.). Elas devem ser tratadas como meio e não como fim em si mesmas pois, ao se perpetuarem, caracterizam a situação humilhante descrita na toada-baião “Vozes da Seca”, gravada em 1953 pelo extraordinário músico pernambucano Luiz Gonzaga:
“Mas dotô uma esmola a uma home qui é são / ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.”
Zé Dantas e Luiz Gonzaga