Nuvens se formam no céu de brigadeiro da economia internacional


No início da semana passada o mercado financeiro internacional sofreu aquilo que o jornal Valor Econômico classificou como “as maiores turbulências financeiras globais desde a crise da Rússia em 1998”. No Brasil, os mercados de dólar e a Bolsa tiveram os piores dias desde 2002, auge da campanha eleitoral e do receio do mercado com a eleição de Lula. Só o dólar, valorizou-se, em apenas três dias, 20%, chegando a R$ 2,40 e, depois, recuando para R$ 2,29.

“O nervosismo diminuiu no fim da semana, mas deixou no ar a preocupação de que o mundo, depois de quatro anos de crescimento, possa ter entrado em um período de instabilidade econômica.”

Revista Época, 29.05.06

De fato, depois de registrar o mais vigoroso período de crescimento desde a década de 1970, a economia mundial parece ter começado a dar sinais de exaustão ou de “indigestão”, segundo definição do ex-diretor do Banco Central e ex-ministro das Comunicações do governo FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros.

“Essa indigestão que atinge os mercados emergentes está sendo provocada por uma mudança nas expectativas em relação às economias mais avançadas. EUA, União Européia e Japão estão entrando em fase mais avançada de seus ciclos econômicos, forçando seus bancos centrais a endurecer no combate à inflação.”

Luiz Carlos M. de Barros, Folha de S. Paulo 26.05.06

Nesse contexto de preocupação com a inflação, merece atenção a economia norte-americana, verdadeira locomotiva do crescimento mundial mas cronicamente deficitária, justamente por isso.

“O governo americano gasta mais do que arrecada, e o país, como um todo, importa muito mais do que exporta — desequilíbrios apelidados de déficits gêmeos. Além disso, bolhas de valorização no preço de imóveis e de ações se espalham por países ao redor do mundo. Algum dia elas deverão desinflar, ou, na hipótese catastrófica, estourar.”

Revista Veja, 31.05.06

Em relação aos EUA, teme-se que o novo presidente do FED (o banco central norte-americano) não consiga ter a mesma atuação tranqüilizadora do seu antecessor.

“Teme-se que Bernanke não tenha o mesmo pulso firme e a habilidade de Greenspan para controlar a inflação ascendente sem provocar recessão na economia.”

Revista IstoÉ, 31.05.06

O que aconteceu a semana passada foi uma antecipação do mercado à uma possível condução inadequada do FED mas pode ser, também, o início de um ajuste mais amplo da economia mundial.

“O ajuste americano pode ser suave, já que a economia mundial continua crescendo. O perigo é a inflação sair de controle e forçar mudanças bruscas nos juros. Por isso, o que há no mercado internacional ainda não é uma crise, é especulação financeira.”

Revista Época, 29.05.06

É bom, portanto, ficar de olho no horizonte porque algumas nuvens começam a se formar…