Não há possibilidade de paz sem oduro aprendizado do convívio com a diferença


Diante da exacerbação do conflito entre Israel e o Hezbollah com a impressionante ofensiva do exército israelense sobre o Líbano, torna-se inevitável tratar do tema da guerra e, em particular, do peculiar conflito no Oriente Médio.

“A guerra é o último recurso da diplomacia.”

A primeira constatação é, justamente, a de que a iniciativa bélica deve ser a última, depois que se esgotam todas as possibilidades de negociação diplomática, seja pelo encerramento do diálogo, seja por uma agressão do adversário. No caso presente, há uma espécie de opinião compartilhada de que Israel sofreu a agressão que desencadeou o conflito.

“Há um consenso de que o Hezbollah bateu primeiro. Em 12 de julho, seus guerrilheiros cruzaram a fronteira, mataram três soldados israelenses e seqüestraram dois.”

Revista Veja, 02.08.06

O Hezbollah, que quer dizer “Partido de Deus”, é um misto de grupo guerrilheiro financiado pelo Irã e pela Síria, de partido político com 14 vagas no Parlamento libanês (de 128 membros) e de organização assistencial paraestatal que administra hospitais e escolas nos distritos xiitas pobres do Líbano, predominantemente no sul do país, próximo à fronteira com Israel. Trata-se de uma das 17 confissões religiosas do país, cinco decorrentes de subdivisões entre muçulmanos, e doze entre cristãos, que já foram responsáveis por uma guerra civil que durou de 1975 a 1990 e causou mais de 150 mil mortos. Depois de estabelecida a paz libanesa, o Hezbollah foi a única facção que não foi desarmada e é, na prática, mais forte que o próprio exército do país.

“O Hezbollah vem funcionando não apenas com o Estado no interior de um Estado, mas quase como o próprio Estado.”

Revista IstoÉ, 02.08.06

Essa complicada situação do Líbano, berço histórico dos fenícios cuja cultura floresceu por mais de dois mil anos a partir de 2.700 a.C., é uma espécie de miniatura da mais do que complexa realidade geopolítica do Oriente Médio, em cujo centro encontra-se a dificílima disputa entre o estado de Israel e o povo palestino.

“A Palestina é, e sempre foi, uma terra de muitas histórias; é uma simplificação radical imaginá-la como exclusivamente de judeus ou árabes. Ainda que a presença judaica seja de longa data, em hipótese alguma foi a principal. Ela teve outros inquilinos como os cananeus, os moabitas, os jebusitas e os filisteus, na antiguidade e romanos, otomanos, bizantinos e os cruzados nos tempos modernos. A Palestina é multicultural, multi-étnica e multi-religiosa.”

Edward W. Said, 1935-2002, escritor palestino

Embora a guerra signifique a colocação da diplomacia em segundo plano, as negociações devem ser logo retomadas para a construção de um acordo que signifique a convivência pacífica de palestinos e israelenses, num mesmo território ao qual ambos têm direito. Fora isso, só a barbárie da guerra e o poço sem fundo dos ódios milenares.

“A questão, penso, não é como projetar os meios para se continuar insistindo na separação e sim ver se é possível viverem juntos e em paz.”

Edward W. Said, 1935-2002, escritor palestino