Queda da miséria transforma-seem grande cabo eleitoral da reeleição


Enquanto não se sabe se a evolução do mais recente escândalo político será capaz de levar para o segundo turno uma eleição presidencial que parecia, até a semana passada, caminhar para a decisão logo no primeiro, a publicação de um novo estudo, na semana passada, dá conta de que a miséria diminuiu no Brasil.

“A queda no nível de pobreza entre 2003 e 2005 é a maior dos últimos 10 anos. É o que revela a pesquisa Miséria, Desigualdade e Estabilidade: O Segundo Real, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os dados do estudo mostram que a miséria ainda atingia 28,2% da população brasileira em 2003, quando começa um novo ciclo de queda, e chegou a 22,7% em 2005.â€?

JB On Line, 22.09.05

Esses números mais recentes dão conta de que o ocorrido no governo Lula equivale ao ocorrido no governo Fernando Henrique Cardoso, quando a miséria, pós Plano Real, caiu de 35% para 28% da população. De 2003 a 2005 a queda acumulada da miséria foi de 19,18%, enquanto no período FHC a queda foi de 21,8%. Com uma diferença: a queda no período Lula se deu em 3 anos, enquanto a do período FHC se deu em 8 anos, com uma média muito parecida quando computados os primeiros mandatos de ambos (5,1% contra 5,2% ao ano, respectivamente). Marcelo Néri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV, coordenador do estudo e especialista em renda no Brasil esclarece as razões desse fenômeno.

“Néri explicou que a redução no nível de pobreza observada nesse período está ligada a fatores como a retomada da oferta de empregos, a programas de distribuição de renda, do tipo do Bolsa Família, e à expansão dos gastos previdenciários.â€?

A Tarde, 21.09.05

O governo Lula, na prática, aprofundou o caminho iniciado no governo FHC, com a diferença de ter dado ênfase à parcela da população mais pobre.

“FHC fez políticas mais horizontais, que afetaram todos os brasileiros. No final do governo criou programas de transferência de renda que foram aprofundadas no governo Lula, que se preocupou mais com os mais pobres. A grande vitória deste governo foi a continuidade da política econômica e social.â€?

Marcelo Néri, Folha de S. Paulo, 23.09.06

O estudo é muito interessante e pode ser consultado na íntegra no endereço www.fgv/cps. Nele se pode verificar que, apesar desses inequívocos avanços, o percentual de 23% da população abaixo da linha de pobreza (parcela que tem renda per capita inferior a R$ 121,00 por mês, a preços atuais na cidade de São Paulo) representa um contingente de 42,5 milhões de brasileiros miseráveis e que ainda há muitíssimo por fazer.
Uma coisa, todavia, chama a atenção no estudo: o percentual anual de diminuição da pobreza no primeiro mandato de FHC (5,2%) e no governo Lula (5,1%). Por certo está aí uma das causas da reeleição de FHC no primeiro turno e a vantagem de Lula nas pesquisas de opinião, apesar de todo o desgaste que sofreu em decorrência do escândalo do mensalão.
A dúvida atual é se Lula será capaz de superar também a mais nova trapalhada do PT e repetir o feito de FHC ou levar a decisão para o segundo turno, o que significa uma nova eleição. Domingo teremos a resposta.