O conforto macroeconômico e abolsa como indutora do desenvolvimento

 
Aproveitando o melhor momento da economia internacional desde, provavelmente, o pós-guerra (crescimento próximo a 5% ao ano nos últimos cinco anos), o Brasil está atingindo um nível de estabilidade macroeconômica talvez nunca antes observado.

“Chegamos a um patamar de conforto macroeconômico nunca visto na história republicana. Taxa de inflação anualizada em torno dos 3%. Saldo da balança comercial superior a US$ 40 bilhões. Vendas no comércio subindo continuamente quase 30% em seis anos. Taxa de juros Selic caindo de 18,9% para 12,7%, com tendência de queda. Volume de crédito aumentando de R$ 307 bilhões, em 2000, para R$ 747 bilhões em 2007. Risco país descendo para 150 pontos. Agência de classificação de risco promovendo o Brasil, que fica mais próximo do chamado grau de investimento.”

Luiz Otávio Cavalcanti, advogado pernambucano

Luiz Otávio, em artigo no Jornal do Commercio do Recife, atribui esse sucesso a quatro fatores: (1) crescimento contínuo da economia norte-americana; (2) crescimento dos países emergentes, em especial China e Índia; (3) sensatez do presidente Lula, ao não se deixar iludir pela aventura do curto prazo; e (4) obstinação do presidente do BC, Henrique Meirelles, no controle da inflação. O sucesso é tanto, sob este ponto de vista, que as agências de classificação de riscos internacionais já dão sinais evidentes da possibilidade de elevação do Brasil ao investment grade (grau de investimento).

“O investiment grade é um selo que vai atestar que o Brasil é um mercado seguro para os investidores. E vai atestar que a área vai passar de investimento especulativo para investimento não especulativo.”

Marcel Antoni de Marco, analista financeiro Inepad

Todavia, enquanto o alcance deste patamar pelo setor público ainda vai demorar, segundo os especialistas, no mínimo mais uns dois anos, várias empresas brasileiras como a Vale do Rio Doce, a Ambev, a Gerdau e a Aracruz já alcançaram o grau de investimento. Esse fato ajuda a ilustrar um fenômeno típico da realidade brasileira ultimamente: a sociedade à frente do estado.

“De um lado há o Brasil público, representado pelo governo, que está parado e há mais de 20 anos não tem caixa para fazer investimentos. [Do outro, o país das empresas que..] cresce a taxas chinesas, disputa espaço com multinacionais e movimenta os negócios no mercado de capitais.”

Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central

Esse movimento tem-se refletido de modo intenso na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) que vem batendo recordes seguidos, numa escalada que já dura quatro anos e que fez o Índice Bovespa se aproximar da marca histórica dos 50.000 pontos, além de ter multiplicado por cinco o valor total das companhias de capital aberto no Brasil (de R$ 150 bilhões em 1995 para R$ 740 bilhões em 2007, equivalente a 74% do PIB, quando em 2000 essa proporção era de apenas 38%).

“A bolsa está começando a cumprir sua missão de financiar empresas.”

Raymundo Magliano Filho, presidente da Bovespa

Um novo tempo, portanto, começa a se anunciar na economia brasileira. Um tempo em que as empresas dinâmicas passam a ter acesso ao capital de risco para investimento, bem mais em conta que o crédito financeiro.