O "comunismo de resultados"chinês se sustenta no longo prazo?

 
Falando para empresários nordestinos e chineses participantes da Missão Empresarial do Nordeste do Brasil à China, promovida pela Federação do Comércio do Estado de Pernambuco neste mês de junho, na cidade de Pequim, o presidente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), maior empresa de geração de energia elétrica do país, destacou a importância do Brasil e da China no cenário internacional como grandes países:

“Quando cruzamos os critérios de países com área superior a 5 milhões de Km2, população acima de 150 milhões de habitantes e PIB maior que US$ 600 bilhões, só vamos encontrar no conjunto união dessas condições os EUA, a China e o Brasil.”

Dilton da Conti Oliveira, presidente da Chesf

Daí, a importância de refletir sobre as semelhanças e diferenças entre os dois países como o Gestão Hoje vem fazendo desde o número passado (ver GH/642), sobretudo face ao impressionante desempenho do gigante chinês que cresce a taxas médias de 9,6% ao ano desde 1980 e hoje já é a quarta economia mundial em vias de passar para a terceira colocação, superando a Alemanha. E tudo isso dentro de um modelo, muito estranho para os ocidentais, que foi batizado por Deng Xiaoping, o grande arquiteto das reformas da era pós Mão Tse-tung, de “economia socialista de mercado”, um misto de estímulo à concorrência e de forte intervenção estatal reguladora. Um modelo batizado por um dos participantes da Missão Empresarial, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Recife (Sindilojas Recife):

“É o comunismo de resultados.”

Frederico Leal, presidente do Sindilojas Recife

Trata-se de um exemplo de pragmatismo que se vê estampado nas grandes cidades chinesas, seja no impressionante crescimento imobiliário e urbanístico de Pequim e Xangai, seja na espantosa proliferação de produtos “Made in China” por todos os lugares. Um pragmatismo muito bem lembrado pelo engenheiro pernambucano Otavio Carvalheira, vice-presidente da Alcoa China:

“Não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato.”

Deng Xiaoping, 1979

Ou seja, não importa a cor do regime econômico, o que importa é se ele permite ou não, pragmaticamente, à China (o gato) superar o subdesenvolvimento (o rato). Pragmatismo que se traduz na grande competição interna entre fabricantes de produtos de todos os tipos e em praticamente todos os setores de bens de consumo e intermediários. Só a Alcoa tem mais de trinta concorrentes chineses para os laminados de alumínio que produz em Xangai, o que chamou a atenção do presidente do Sindicato da Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco (Simmepe).

“Estou convencido de que a competitividade dos produtos chineses deve-se à enorme competição interna entre fabricantes e fornecedores.”

Alexandre Valença, presidente do Simmepe

Até agora, pelo que se consegue ver por todos os lados, o modelo parece estar dando certo e, com isso, tomando um caminho sem volta, com todas as implicações decorrentes. Para o diretor da Martorelli e Gouveia Advogados (MGA), o maior escritório de advocacia do Nordeste, ainda persiste uma questão bastante importante em relação ao futuro da experiência chinesa:

“A dúvida que fica é se eles conseguirão fazer a transição ordenada para o regime de liberdades políticas. A Rússia não conseguiu.”

João Humberto Martorelli, diretor geral da MGA