Os 100 anos de Niemeyer mostrampara o mundo o valor da criatividade do Brasil


Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares, nascido no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1907, está prestes a completar 100 anos. Trata-se de uma data notável, não só pelo fato mesmo de alguém chegar a essa idade ainda trabalhando intensa e criativamente, como por ser considerado um gênio de sua profissão, a arquitetura, como bem destaca o premiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha em programa especial do canal de notícias GloboNews.

“Você não pode imaginar o mundo da arquitetura sem Niemeyer. Seria como o mundo sem Miguel Ângelo.”

Paulo Mendes da Rocha, arquiteto paulista

Parece exagero mas não é. Pode-se dizer, sem risco de exorbitância, que a arquitetura moderna divide-se em duas eras: antes e depois de Oscar Niemeyer. Ele é o principal responsável pela introdução da curva no concreto armado, antes dominado apenas pelo ângulo reto.

“A reta é a menor distância entre dois pontos mas a curva é a mais agradável.”

Oscar Niemeyer

O destino uniu-se ao talento de Niemeyer para colocá-lo ao lado do arquiteto franco-suiço Le Corbusier, principal expoente do movimento moderno na arquitetura, e de outros arquitetos brasileiros de renome como Lúcio Costa e Burle Marx, no projeto do novo edifício do ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro em 1935. Foi a primeira edificação moderna do país e tornou-se referência da arquitetura modernista mundial. A convivência com Niemeyer e a observação da sua obra faria o próprio Le Corbusier introduzir a curva (com resultados estéticos bastante inferiores, diga-se de passagem) em algumas de suas obras posteriores. De Niemeyer, Le Corbusier diria, depois de outra marcante experiência que tiveram juntos (o projeto do edifício-sede da Organização das Nações Unidas em Nova York):

“Oscar tem as curvas do Rio de Janeiro nos olhos.”

Le Corbusier

Após a bem sucedida experiência da sede do ministério da Educação e Saúde, mais uma vez o destino atuou colocando, em 1940, Niemeyer no caminho de Juscelino Kubitschek, jovem e promissor prefeito de Belo Horizonte, para o qual projetou as edificações do revolucionário complexo da Papulha na capital mineira. Em 1956, eleito presidente do Brasil, Juscelino convoca Niemeyer para ajudá-lo a construir a nova capital do Brasil. O plano piloto, ganho em concurso por Lúcio Costa, junta novamente o trio vitorioso do projeto pioneiro (com Niemeyer nas edificações e Burle Marx no paisagismo), mostrando para o mundo o assombro moderno que representou Brasília em 1960, não só pelo ineditismo da proposta arquitetônica e urbanística como pela rapidez com que foi construída.

“A história da arquitetura moderna no Brasil é a história de um punhado de jovens e de um conjunto de obras realizado com uma rapidez inacreditável.”

Henrique E. Mindlin, “Arquitetura Moderna no Brasil”

A obra de Niemeyer é um exemplo mais do que eloqüente da criatividade e da competência com que o Brasil pode, não só resolver os seus problemas, como ainda produzir soluções que se transformem em referência mundial. Na esteira de Niemeyer e de Brasília, pelo menos três gerações de arquitetos e urbanistas talentosos têm contribuído decisivamente para que a arquitetura brasileira seja exemplo para o mundo. O que distingue Niemeyer dos demais, além da genialidade de seus projetos, é a sua impressionante longevidade produtiva. Mas esse já é tema para o próximo Gestão Hoje.