Perspectivas 2008 para o Brasil: crescimento, crise nos EUA e inflação


Em meio a um final de ano que está se configurando como, do ponto de vista do consumo, o melhor da década, o país se prepara para um ano novo que se anuncia bastante promissor do ponto de vista do crescimento do PIB.

“Pode não ser o Natal mais animado de todos os tempos, mas tanto frenesi comprador não se via havia anos e anos.”

Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 23.12.07

Não só os consumidores estão com essa sensação como, também, os executivos de empresas. Em pesquisa publicada pela última revista CartaCapital que ouviu cem executivos de empresas de setores diversos da economia, as expectativas estão bem mais otimistas do que as do ano passado.

“Em relação a 2006, os executivos estão mais otimistas. A pesquisa de 2007 indica que o número de executivos que espera um cenário de crescimento no próximo ano saltou de 64% para 91%.”

Carta Capital, 26.12.07

Esse otimismo por certo ancora-se na expressiva migração de 20 milhões de brasileiros que saíram da classe D/E para a classe C em virtude dos programas previdenciários e sociais de complementação de renda e da aceleração da economia verificada nos últimos cinco anos, conforme deixa clara a série de pesquisas Datafolha realizadas entre outubro de 2002 e novembro de 2007.

“Nos últimos cinco anos, a classe D/E encolheu de 46% do total da população para 26%. Já a C cresceu de 32% para 49%, reunindo hoje quase a metade do eleitorado do país — 125 milhões de pessoas com mais de 16 anos. A classe A/B manteve-se praticamente estável. Seu total oscilou de 20% para 23% da população.”

Fernando Canzian, Folha de S. Paulo, 16.12.07

O cenário otimista decorrente dessas boas expectativas está condicionado por dois fatores principais, um externo e outro interno: (1) o risco de desaceleração da economia norte-americana; e (2) o aumento da inflação no Brasil. O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em excelente entrevista ao jornal Valor, deixa bem claras as conseqüências do primeiro fator.

“Se o problema for realmente um problema de economia real, mais de solvência e não de liquidez, não será possível evitar uma desaceleração da economia americana. (…) Se houver uma crise maior lá fora, o crescimento seria mais baixo aqui. (…) Em vez de crescer 5%, cresceria uns 3%.”

Armínio Fraga, Jornal Valor, 18.12.07

No front interno, o aquecimento da demanda deverá pressionar a oferta e, com isso, a inflação, apesar da ampliação do investimento (ver a respeito o GH/670). Para combater isso o Banco Central deve não só interromper a queda dos juros, como passar a aumentá-los em 2008, conforme já começam a recomendar alguns economistas.

“Existe uma forma simples de enfrentar o desafio da inflação: um aumento de três a quatro pontos percentuais na taxa Selic, ao longo de 2008, para desacelerar a economia via canal de crédito e moderação da demanda privada.”

Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista