Risco de racionamento de energia pode comprometer o crescimento em 2008

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Delfim Netto, economista, com passagem pelos ministérios da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, em entrevista dada à revista Dinheiro, relaciona os dois principais motivos que, no seu entendimento, impediriam o crescimento do país.

“O que impede o crescimento? Os obstáculos, na verdade, são dois. De um lado, energia. Se você não tiver e não puder importá-la, a máquina não roda. De outro, é o déficit externo, em conta corrente.”

Delfim Netto, Dinheiro, 16.12.07

Sobre as contas externas, o GH anterior (GH/673), já tratou do assunto, destacando que, pela primeira vez no governo Lula, projeta-se um déficit em 2008. Sobre a falta de energia, na semana passada o tema chegou às manchetes dos jornais pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, que afirmou não ser impossível que o país venha a enfrentar um apagão ainda este ano. Ele foi desmentido pelo governo, mas trouxe à luz um assunto que vinha sendo tratado na surdina, configurando um cenário potencial de crise.

“Esse cenário de crise resulta da conjugação de alguns fatores que se agravaram nos últimos meses. Os mais importantes são: o aumento do consumo em razão de um crescimento econômico mais acelerado e a ocorrência de um regime de chuvas bem menos favorável.”

Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista

A falta de energia inclui-se no problema maior do sucateamento da infra-estrutura nacional que pode se constituir no maior entrave à retomada do crescimento econômico continuado. Mais de duas décadas de crescimento baixo e de investimentos reduzidos provocaram o quadro atual que o governo Lula vem tentando enfrentar com o PAC. No que diz respeito à energia, o governo ainda promoveu uma revisão do marco regulatório do setor que atrasou perigosamente os investimentos em geração de energia nova.

“Na energia, houve atrasos e começamos a entrar num modelo totalmente equivocado. Cometemos erros um atrás do outro.”

Delfim Netto, Dinheiro, 16.12.07

Como resultado, a oferta foi ficando defasada e agravou-se com o aumento da demanda e a falta de chuvas para garantir o adequado nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas, além da crise do gás, insuficiente para consumo automotivo e industrial e para abastecer as usinas termelétricas, projetadas para compensar a falta de chuvas e afastar o risco de racionamento.

“Até março, dependeremos da dança das chuvas. Racionamento de gás é uma possibilidade real nesse primeiro trimestre.”

Vinicius Torres Freire, Folha de S. Paulo, 11.01.08

Um racionamento de energia agora seria um duro golpe nas projeções otimistas de crescimento econômico em 2008. Assim como há quem ache que esse cenário ruim se materializará, há outros como o próprio Delfim Netto que acham que o pior já passou e que agora o governo acertou o passo com a conclusão do processo de licitação da hidrelétrica do Rio Madeira. Pelo sim, pelo não, é bom ficar de olho no nível dos reservatórios…

“Agora com esse leilão do Madeira, o governo se recuperou (…) dá para assegurar: não vai mais faltar energia no País. O problema está superado.”

Delfim Netto, Dinheiro, 16.12.07