O crescimento da classe C e sua grande importância eleitoral

A revista Veja desta semana destaca na capa matéria baseada nas conclusões do estudo Observador 2008, feito pelo instituto de pesquisas Ipsos por encomenda da financeira Cetelem do banco francês BNP Paribas, divulgado na semana passada. O que chama a atenção no estudo é o grande crescimento da classe C nos últimos anos no país.

“Nos últimos dois anos, mais de 20 milhões de brasileiros saíram das camadas sociais mais baixas — as chamadas classes D e E — e alcançaram a classe C, a porta de entrada para a sociedade de consumo.”

Revista Veja, 02.04.08

Segundo o economista José Roberto Mendonça de Barros, em matéria no Bom Dia Brasil da Rede Globo em 10.12.07, essa migração foi favorecida por quatro fatores básicos: (1) queda do preço dos alimentos; (2) aumento real do salário-mínimo e programas de transferência de renda que, juntos, têm o efeito de encorpar a renda familiar; (3) barateamento dos bens de consumo durável por conta da desvalorização do dólar; e (4) expansão do crédito com novas formas de financiamento e crescimento do uso dos cartões. O resultado de tudo isso é mais dinheiro no bolso ou destinado para o consumo. É como diz o presidente da Associação Brasileira de Empresas Pesquisa (Abep), no mesmo programa:

“Em apenas um ano esse estrato social aumentou o equivalente a duas vezes a população de Portugal.”

Waldyr Pill, Bom Dia Brasil, 10.12.07

Com mais dinheiro disponível, o crescimento da classe C foi tão grande que em poucos anos mudou o perfil do mercado consumidor do país. Hoje, com 86 milhões de pessoas, a classe C já é maioria da população brasileira (46% da população com renda média de R$ 1.062,00), enquanto as classes A/B, no topo da pirâmide, representam 15% da população (28 milhões de pessoas com renda média de R$ 2.217,00) e as classes D/E, na base, representam 39% da população (com 72,9 milhões de pessoas e renda média de R$ 580,00). De acordo com o estudo encomendado pela Cetelem, em 2007 o crescimento da classe C foi, de fato, surpreendente.

“O marketing no Brasil sempre foi direcionado para as classes A, principalmente, e classe B e hoje tem uma classe sozinha, que é a classe C, com a maior fatia do bolo de consumo. O desafio é entender e falar a língua dessa população.”

WMárcia De Chiara, O Estado de S. Paulo, 27.03.08

Com tanta gente nova entrando no mercado consumidor, coloca-se de imediato o problema de produção adequada ao novo perfil de consumo (coisa que muitas empresas já estão levando à frente como é o caso, por exemplo, da Nestlé que fez adequações de produtos e embalagens bem focadas). Outro problema, é o da comunicação.

Marcos Pazzini, diretor da Target Marketing

Mas esses são, como diriam alguns, bons problemas que exigirão disposição dos envolvidos para a criação de novas formas de produção e comunicação. Outro aspecto digno de consideração é a força eleitoral que tem essa nova classe (já representa 50% do eleitorado). Se for um movimento sustentado, o seu poder se tornará enorme.

“O quadro econômico que provavelmente prevalecerá em 2010 não será muito diferente do atual. A chamada classe C (…) constituirá importante força eleitoral.”

José Júlio Senna, economista, Veja, 02.04.08