Banco Central volta a aumentaros juros para combater a alta da inflação


Depois de três anos sem aumentar os juros, o Banco Central resolveu, na semana passada, elevar a Selic em 0,5 ponto percentual, fazendo subir de 11,25% para 11,75% a taxa básica anual. A ação do Copom (Comitê de Política Monetário) teve o objetivo declarado de evitar que o aumento dos índices de preços no atacado, que já estavam em processo de elevação de 10% ao ano, contamine os índices de preços ao consumidor. Ou seja, uma ação preventiva contra o aumento da inflação.
“O BC tem que agir como aquele médico que diz: muito bem, você tem que comer menos agora. Tem que comer bem, mas sem exagerar para que sua saúde continue bem. Em resumo, o BC tem de tomar as providências para que o país continue numa trajetória saudável.”
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central
A decisão acirrou a discussão entre os favoráveis ao aumento dos juros básicos e aqueles que são terminantemente contra. O nível dos juros no Brasil é considerado um dos mais altos do mundo em termos reais (acima de 7% descontada a inflação — os dos EUA, só em termos de comparação, são hoje negativos). Na base desta discussão, está a questão de que taxa de crescimento a economia suporta sem forçar a taxa de inflação.
“As autoridades monetárias consideram que a economia brasileira não é capaz de conviver com um ritmo de crescimento de 5% e manter a inflação abaixo de 4,5%.”
George Vidor, jornalista econômico, O Globo, 21.04.08
Há praticamente um quarto de século com baixíssimo crescimento e sem investimento necessário à ampliação da capacidade produtiva e da infra-estrutura, o país vê-se diante do dilema de não poder crescer muito, puxado pela demanda interna, sem ver a inflação aumentar. Trata-se da velha lei da oferta e da procura. Se a demanda é maior do que a oferta, o preço aumenta. E para complicar, apesar de os índices de investimento estarem aumentando, os insumos estão há anos com preços ascendentes no mundo, a começar pelo preço dos alimentos  (que já aumentou mais de 40% desde meados do ano passado) e do petróleo que já bateu o recorde histórico de US$ 118 o barril. A inflação já é considerada uma ameaça até maior que a recessão norte-americana.
“O Brasil não é um caso isolado de elevação da inflação. Da China aos Estados Unidos, a alta dos preços de energia e das commodities tem obrigado bancos centrais a tomar posturas cautelosas para manter a inflação sob controle. Na China, a alta dos preços já chega a 8,3% ao ano — quase o dobro do centro da meta brasileira.”
Portal Exame, 17.04.08
A tese é que a recessão norte-americana só afundará os países emergentes se provocar o fim do boom das commodities, enquanto a inflação já está causando alta dos juros e retração do consumo em vários países. Essa é a má notícia. A boa é que, diferentemente do que acontecia nas outras altas de juros no passado recente, o país se encontra melhor preparado para que o aumento dos juros tenha efeito mais imediato.
“O volume de crédito na economia aumentou de 24% para 35%. Com isso, uma mesma alta de juros tem efeito maior sobre a inflação, já que o principal canal para que a política monetária controle os preços é tornando os financiamentos mais caros e reduzindo o consumo.”
Luciana Rodrigues, jornalista, O Globo, 20.04.08