O que está por trás do aumento internacional do preço dos alimentos?


Além da crise na economia norte-americana, outro assunto tem freqüentado ultimamente com assiduidade a crônica econômica internacional: a alta dos preços dos alimentos. No que diz respeito ao Brasil, o assunto ganhou espaço no noticiário nacional depois que o ex-deputado suíço e atual relator especial da ONU para o direito à alimentação, Jean Ziegler, declarou em entrevista à Rádio da Baviera (Alemanha):
“O uso e fomento de biocombustíveis é um crime contra a humanidade. 
Jean Ziegler   
A declaração do ex-deputado levou a uma onda de protestos, inclusive do presidente Lula que atacou de forma enfática a visão equivocada (para não dizer favorável aos interesses dos chamados países desenvolvidos). Afinal, o Brasil está se posicionando no cenário internacional não só como o maior produtor mundial de alimentos mas, também, como o principal produtor de etanol derivado da cana-de-açúcar, considerado o mais viável dos biocombustíveis. Afinal, as razões do condenado aumento mundial dos preços dos alimentos são bem mais amplas do que aquela destacada pela frase de efeito. 
“A escalada do preço dos alimentos tem 5 causas principais, das quais duas podem ser consideradas irreversíveis: (1) aumento do consumo; e (2) preço do petróleo. As outras são: (3) a cotação do dólar no mercado internacional caiu 37% nos últimos 6 anos, provocando fuga de investidores para os fundos de commodities; (4) o incentivo do governo americano aos produtores de etanol de milho fez aumentar a cotação do grão e estimulou agricultores de soja e trigo a migrar para o milho; (5) secas, enchentes, pragas e doenças nos rebanhos provocaram quebras de safra graves na China, na Europa e na Austrália.”  
Revista Veja, segundo o site www.thetoptip.com.br     
Os alimentos estão mais caros, portanto, em razão da ação dos chamados fatores de mercado: do lado da demanda, entrada dos novos consumidores chineses e indianos sobretudo (mas brasileiros também). Mais gente comendo mais, então.  Do lado da oferta, com a elevação do preço do petróleo, aumentaram os custos de transporte e dos insumos (muitos fertilizantes são derivados de petróleo). Além disso, choques de oferta decorrentes de variações climáticas em muitos países produtores. Acrescente-se à situação já complicada a especulação financeira com as commodities e o quadro fica quase completo. Aí, o problema do subsídio à produção de etanol a partir do milho nos EUA funciona como se fosse  combustível jogado numa fogueira já grande. 
“Dar enormes subsídios para a produção de etanol é inaceitável moralmente, além de irresponsável. A produção acelerada de etanol a partir de milho vai provocar uma concorrência cada vez maior pela terra e, nessa disputa, a produção de alimentos deve perder. O volume de milho que for utilizado para o combustível acabará faltando na mesa dos consumidores em todo o mundo.
Peter Brabeck, presidente da Nestlé  
Esse é que é o problema condenado pelo relator e endossado pela ONU. Afinal, 40% do milho produzido nos EUA já são destinados à produção fortemente subsidiada de etanol. No Brasil, a plantação de cana corresponde a menos de 1% da área cultivada, sem falar que cerca de metade da cana é destinada à produção de açúcar. O problema é norte-americano, portanto, e não brasileiro.