Popularidade, grau de investimento e a sucessão do sucessor do presidente Lula

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Já conhecedor, na semana passada, do resultado da última pesquisa do Instituto Sensus dando conta da melhor avaliação de sua gestão (69,3% de aprovação do desempenho pessoal e 57,5% de aprovação do governo), o presidente Lula, como a totalidade dos analistas e do público em geral, foi surpreendido com a notícia de que o Brasil tinha sido promovido a grau do investimento. Não se conteve e declarou na primeira reunião do Conselho Deliberativo da nova Sudene em Maceió:

“O Brasil vive um momento mágico.”

Presidente Lula

Pelo menos do ponto de vista macroeconômico, o presidente está com a razão. A elevação do Brasil de grau especulativo para grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, significa uma espécie de coroamento de quase 15 anos de um custoso esforço de estabilização da economia que passou pelo Plano Real, pela vitória contra a hiperinflação, pela abertura da economia, pela implantação do câmbio flutuante, do equilíbrio fiscal e do regime de metas de inflação, pela retomada dos superávits comerciais e pela recomposição das reservas cambiais (hoje na casa dos US$ 200 bilhões). Tudo isso, todavia, funciona como uma espécie de “colação de grau” como país sério, mas não garante o desempenho futuro, como bem destaca o economista do Ibmec no canal GloboNews (03.05.08).

“O grau de investimento é como uma formatura. O Brasil ganhou o grau mas não há garantia de que terá uma carreira de sucesso.”

Ruy Quintans, economista do Ibmec

Mesmo porque a entrada do Brasil no clube dos países macroeconomicamente responsáveis se deu, como não poderia deixar de ser, pela classificação mais baixa (BBB-) que significa “boas condições financeiras, mas não protegidas contra choques”. Acima desse existem ainda nove outros níveis. E, além da Standard & Poor’s, ainda existem duas outras agências consideradas de primeiro nível (Fitch e Moody’s) que são observadas pelos fundos de investimentos para balizar suas aplicações já que a maioria deles é estatutariamente proibida de colocar dinheiro em países que não tenham o grau de investimento (muitos fundos, inclusive, precisam da classificação de mais de uma agência de primeiro nível).

“O país está no nível mais baixo do grau de investimento e há muito que avançar. A própria Standard & Poor’s ressaltou problemas sérios, como o elevado nível de gastos governamentais e a falta de reformas estruturais, a exemplo da tributária.”

Revista Veja, 07.05.08

O fato é que, com a popularidade nas alturas e, agora, com o grau de investimento, o presidente Lula reafirma-se como candidato fortíssimo à sucessão de sua sucessão, sem considerar, por estapafúrdia, a tese do terceiro mandato. Já se cogita, inclusive, um cenário semelhante ao da volta de Getúlio Vargas, “nos braços do povo”, em 1951.

“Enquanto o Congresso gasta energia discutindo um terceiro mandato para o presidente Lula, seus aliados dizem que o melhor para ele, na verdade, é ter Dilma Rousseff e José Serra como candidatos à sua sucessão. Os dois têm perfil técnico e não ofuscariam a figura de Lula. Ele voltaria, então, em 2014. ‘Ou melhor, iriam buscar em casa’, repetiram a mesma frase dois aliados nesta semana.”

Ilimar Franco, Panorama Político, O Globo, 04.05.08