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No final do ano passado, o Gestão Hoje (ver GH/669) reproduziu a opinião do economista-chefe do FMI sobre os riscos que pairavam sobre a economia internacional no horizonte de 2008:

“Lidamos com o potencial de uma colisão entre crise financeira do século XXI e um choque do petróleo ao estilo ocorrido na década de 70. Seria como se uma tempestade perfeita atingisse o mundo.”

Simon Johnson, economista-chefe do FMI

Naquele momento, quando o quadro ainda estava mais nebuloso do que o atual, a metáfora da “tempestade perfeita” (um evento meteorológico desastroso resultado de uma série de fatores agindo por sinergia, retratado no filme “Mar em Fúria”, EUA, 2000) servia para tentar caracterizar o que poderia acontecer quando a crise imobiliária do EUA se juntasse ao aumento astronômico do preço do petróleo. Agora, o alerta vem do BIS (Bank of International Settlements), mais conhecido como o banco central dos bancos centrais do planeta.

“A ameaça imposta pelo ressurgimento da inflação chega, justamente, num momento em que os riscos ao crescimento global causados pelo acentuado aumento nos preços do petróleo e pelo aperto nas condições de crédito em algumas economias-chave aumentaram.”

Malcolm Kneigth, diretor-geral do BIS

Indícios desse cenário que mistura desaceleração econômica com inflação começam a aparecer por toda parte. Na Europa, por exemplo, a inflação se apresenta como a maior em 16 anos na zona do euro, o que fez o Banco Central Europeu elevar os juros básicos para o maior nível em 7 anos (de 4% para 4,24% ao ano). No que diz respeito aos preços dos alimentos, o jornal britânico The Guardian estima em 75% a elevação dos preços. Por sua vez, a bolsa de valores japonesa teve uma queda inédita em 54 anos. No Brasil, as projeções já apontam para a queda no crescimento.

“No pior cenário internacional (agravamento da crise americana, maior pressão inflacionária e desaceleração da economia global), o crescimento do PIB brasileiro poderá cair para 4% em 2009.”

Luciano Coutinho, economista, presidente do BNDES

No que diz respeito à bolsa de valores brasileira (Bovespa) que vinha batendo recordes sucessivos, o mês de junho fechou com perda de 10,4%. Nesse particular, acompanhou a Bolsa de Valores de Nova York que teve o seu pior mês em seis anos.

“Nesse cenário, é igualmente lógico que as Bolsas de Valores sofram pesadas perdas.”

Clóvis Rossi, colunista da Folha de S. Paulo

Desaceleração mais inflação é o quadro que se vai, infelizmente, firmando mundo afora, inclusive no Brasil que se vê às voltas com o recrudescimento da inflação, tanto por contágio internacional (preços dos alimentos e preços do petróleo) quanto por pressões de crescimento da demanda interna acima da capacidade de suprimento da oferta (capacidade das fábricas, estradas, portos, energia etc.).

Depois de mais de uma década de inflação baixa e de cinco anos de crescimento recorde, a economia mundial emite sinais de mudança de ventos, com risco, inclusive, segundo alertam alguns analistas, de criação de uma “tempestade perfeita”. Essa constatação requer atenção para os cenários econômicos daqui para a frente. Tudo indica que o mais otimista começa a dar lugar a outro mais pessimista. Para o mundo e para o Brasil.