Dá para enfrentar o assédio dos concorrentes sem fazer leilão de salários?

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É impressionante como a continuidade do crescimento econômico, mesmo não muito alto, provoca escassez dos fatores de produção no Brasil, particularmente a mão-de-obra especializada. Com um crescimento médio de 3,8% ao ano, baixo quando comparado com o dos países emergentes, seus concorrentes na cena internacional, mas alto se comparado com a média de 2,3% do governo FHC, o país no governo Lula já se depara com a falta de especialistas como é o caso dos engenheiros.

“Depois de duas décadas sem obras, faltam engenheiros no Brasil. Há 100 mil deles disponíveis, mas o País precisa de 200 mil só para tocar o PAC. E de mais 400 mil nos próximos dez anos.”

Hugo Studart, Revista IstoÉ, 06.08.07

Se o ritmo de crescimento do país se mantiver, mesmo não muito alto e apesar da mais recente política de arrefecimento posta em prática pelo Banco Central com o aumento dos juros para combater a aceleração da inflação (aposta que é feita pela maioria dos analistas), essa situação verificada com os engenheiros vai se alastrar para outras categorias como, aliás, já vem acontecendo em regiões onde o crescimento é maior, como é o caso do Estado de Pernambuco.

“Pernambuco já começa a sentir os efeitos positivos da chegada dos investimentos estruturadores ao Estado. No primeiro trimestre deste ano, o PIB pernambucano cresceu 8,8% em relação ao mesmo período do ano passado — melhor resultado da última década. (…) esse momento singular da economia pernambucana traz, também, uma ameaça real para as empresas: a disputa acirrada por profissionais qualificados. O assédio às equipes já é uma realidade. Bons profissionais estão sendo abordados com propostas cada vez mais tentadoras.”

Gestão Mais, revista Algomais, agosto/2008

Para fazer frente a esse assédio, a própria seção da Algomais sugere cinco pontos essenciais: (1) investir na formação da equipe (no sentido de desenvolver programas de estágio e de trainee capazes de gerar profissionais comprometidos com a visão de futuro da empresa); (2) dar visibilidade ao futuro (para fazer com que o profissional acredite que as perspectivas na atual empresa são mais promissoras do que os benefícios imediatos em um novo emprego); (3) oferecer políticas atrativas de remuneração (considerando que participação nos lucros, remuneração por produtividade, programas de incentivo, ou seja, planos de remuneração variável, são bem mais atrativos para o profissional do que a tradicional fórmula salário + benefícios); (4) evitar “leilões” (uma vez que cobrir o salário oferecido para reter o profissional pode ser uma estratégia arriscada pois não só cria distorções em relação ao restante da equipe, como não assegura o futuro); (5) cuidar do clima (levando em conta que o profissional prefere ganhar menos a trabalhar numa organização em que a relação gestor-equipe está desgastada ou cujo modelo de gestão está ultrapassado). Fazer tudo isso, tendo sempre em mente a pertinente observação de Thomas Jefferson.

“Vivemos mais dos sonhos do futuro do que dos planos do passado.”

Thomas Jefferson, 1743-1826, 3º. presidente dos EUA

Se essas medidas forem tomadas e, em especial, se houver cuidado com a observação de Jefferson, dá para responder afirmativamente à pergunta do título. Caso contrário, a perda ou o leilão são inevitáveis, sem que se saiba qual a pior dos dois. Preservar pessoas competentes, significa oferecer-lhes alternativas que vão além de cifras.