Em seminário intitulado “Vigor da Economia Brasileira em Questão”, promovido pela Internews em São Paulo nesta segunda-feira, 20.10.08, o economista Luis Paulo Rosenberg, sócio da consultoria Rosenberg e Associados, ex-assessor do Ministério do Planejamento, da Presidência da República e do Banco Central, fez algumas importantes considerações sobre a atual crise financeira internacional e suas repercussões sobre o Brasil que vale a pena reproduzir.
“O pior da crise financeira já passou. Agora, as implicações econômicas serão dramáticas, profundas e dolorosas.”
Luis Paulo Rosenberg
As conseqüências serão para todo o mundo, mas algumas particularidades precisam ser observadas, em especial sobre o que acontecerá com os EUA e com a China. Todos os participantes do seminário (Yoshiaki Nakano, Gesner Oliveira e Samuel Pessoa), ainda que com projeções um pouco diferentes, chamaram a atenção para essas conseqüências sobre as duas economias que serão as principais protagonistas desta crise e da saída dela.
“A queda da economia americana começou no trimestre passado e a hora da verdade será no começo do ano que vem; aí não se sabe o que vai acontecer com a China. Na verdade, não tenho tido tempo de rezar pelo Brasil porque tenho dedicado 1/3 do meu tempo para rezar pelos EUA e 2/3 para rezar pela China…..”
Luis Paulo Rosenberg
De fato, os analistas são unânimes em afirmar que os efeitos da crise financeira, sem dúvida a mais grave, pela magnitude, desde a de 1929, serão muito severos sobre a economia real dos EUA e, por conseguinte, sobre a do restante do mundo. Neste quadro, dois eventos devem ser observados com toda a atenção: (1) os desdobramentos da eleição norte-americana; e (2) os rebatimentos da desaceleração dos EUA na economia chinesa. No que diz respeito ao desempenho da economia norte-americana, as expectativas são de crescimento negativo em 2009.
“O PIB dos EUA deve ter um crescimento negativo de 2% em 2009.”
Luis Paulo Rosenberg
Partindo do princípio de que o próximo presidente dos EUA conseguirá assumir o controle da economia e do seu restabelecimento, e de que a China não será catastroficamente impactada em seu ritmo de crescimento (ou seja, caindo até dois pontos percentuais), a economia do Brasil deve ter um comportamento do seguinte tipo em 2009:
“No Brasil, pensar no dólar voltando a R$ 1,60 é um sonho de uma noite de verão. Até o final do ano, deve se estabilizar em R$ 2,00 e, em 2009, deve subir até R$ 2,40. A Bolsa não deve voltar a 60 mil pontos em 2009 e o superávit comercial deve ficar abaixo de US$ 13 bilhões. A taxa Selic a 10% é bastante plausível e o crescimento do PIB deve ficar em 2% positivo. Nesse cenário internacional, falar em 2% de crescimento para o Brasil é meio copo cheio e, não, meio copo vazio.”
Luis Paulo Rosenberg
Em resumo, então, pode-se concluir que, controlada a fase mais aguda da crise financeira, temos que acompanhar e nos preparar para seus desdobramentos na economia real. Como esses desdobramentos não são instantâneos, uma parte vai aparecer neste fim de ano e outra em 2009. E vamos torcer para que fique só por aí.