Para fazer as mudanças requeridas pela crise é preciso deixar o medo de lado

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A última citação do Gestão Hoje anterior foi da escritora norte-americana, deficiente auditiva e visual, Helen Keller cuja história da infância e do encontro com Annie Sullivan sua professora, companheira e protetora está bem contada no excelente filme “O Milagre de Anna Sullivan” (“The Miracle Worker”, EUA, 1962, direção de Arthur Penn). A citação completa é a seguinte:

“Evitar o perigo não é, a longo prazo, tão seguro quanto se expor ao perigo. A vida é uma aventura ousada ou, então, não é nada.”

Helen Keller, 1880-1968, escritora norte-americana

Essa citação se presta bem aos tempos atuais de uma crise que é séria e ainda vai causar muitas dificuldades aos agentes econômicos. Iniciada nos EUA, a crise chegou ao Brasil de forma progressivamente acentuada, pelo menos no que diz respeito ao crescimento do PIB, como muito bem observa o ex-diretor do Banco Central do Brasil, Luis Fernando Figueiredo, hoje sócio da Mauá Investimentos, no programa Globo News Painel do fim de semana passado.

“No terceiro trimestre (de 2008) nós estávamos crescendo a 8% ao ano, 9% ao ano. E no último trimestre, o número será negativo entre 1 e 2%, o que quer dizer que o gap de crescimento é de 9 a 10% ao ano.”

Luís Fernando Figueiredo, economista

Embora o Brasil esteja muito mais preparado do que das vezes anteriores para enfrentar a crise que começou no sistema hipotecário norte-americano se alastrando para o sistema financeiro e para a economia real de praticamente todo o mundo, o problema é grave e não adianta tentar esconder o sol com a peneira.

“Lá fora vai caminhar para uma coisa muito mais cirúrgica. A solução final vai ser a nórdica: nacionalizar o sistema (financeiro), tirar a parte podre e colocar num lugar só (…) limpar os bancos, vendê-los de novo e fazer a coisa voltar a operar.”

Delfim Netto, economista, Globo News Painel

Enquanto isso não acontece nos EUA, no Brasil atualmente parece que as pessoas estão mais preocupadas com os problemas que a crise traz do que com as soluções para sair dela. O que é natural mas, infelizmente, contribui bastante para adiar o retorno aos tempos virtuosos, muito embora a política monetária já demonstre a mudança estrutural do país.

“Minha leitura é que nós ainda estamos trabalhando com os problemas porque você não sai de 8% de crescimento para zero impunemente. Você tem que limpar a casa e olhar para a frente. Não deu tempo ainda. Essa digestão é importante que aconteça. (…) [Mas] Pela primeira na nossa história, numa crise da magnitude dessa, o Banco Central reduziu e não subiu juros. Isso é sinal de uma mudança gigantesca.”

Luís Fernando Figueiredo

Não há dúvidas de que a crise é séria e profunda, vai demorar a ser vencida e o Brasil sofrerá mais do que se pensava inicialmente, muito embora bem menos do que das vezes anteriores e do que os países centrais, a começar pelos EUA. Neste cenário, o fundamental é manter a cabeça fria para fazer o que precisa ser feito, sem medo ou desespero, como recomendou Helen Keller:

“Não importa o quanto se sinta em posição desfavorável; não se desencoraje; não tenha medo; não se desespere.”

Helen Keller, 1880-1968, escritora norte-americana