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Na mesma semana em que tecnicamente a economia brasileira entrou em recessão (dois trimestres consecutivos de crescimento negativo), com a divulgação pelo IBGE da queda de 0,8% do PIB no primeiro trimestre de 2009, o Banco Central reduziu a taxa Selic (os juros básicos da economia) para 9,25%. Foi a primeira vez, desde a criação do Comitê de Política Monetária (Copom), que a taxa fica abaixo de 10%.

“Pela primeira vez desde o Plano Real, a taxa básica de juro, a Selic, atingiu o patamar de 1 dígito. É o custo do dinheiro mais baixo da história de um país em que já foi necessário pagar mais de 400.000% ao ano para tomar um empréstimo bancário ou financiar a compra de um equipamento industrial.”

Exame, 11.06.09

Realmente, é um feito histórico decorrente do fato de o Brasil ter feito o “dever de casa” da estabilização macroeconômica que, em março passado, completou 15 anos com o aniversário de lançamento do Plano Real em 1994. Apesar disso, todavia, por conta do alto custo desse processo de estabilização, ainda que os mais baixos da história, os juros reais brasileiros continuam um dos mais altos do mundo.

“Mesmo assim, o Brasil ainda tem um dos maiores juros reais (descontada a inflação) do planeta. (…) o país tem juros reais de 4,9%, atrás apenas da China (6,9%) e Hungria (5,9%).”

Folha de S. Paulo, 11.06.09

Esse fato, junto com a percepção internacional de que o Brasil é um dos países que melhor está resistindo à crise e que mais rápido sairá dela, está fazendo com que os investidores estrangeiros comecem a trazer de volta os dólares que retiraram do país no auge da crise. Com isso, a Bovespa já registra alta superior a 40% e a cotação do dólar já recuou 16% em 2009.

“A enorme valorização do real transformou outra vez a economia brasileira no mais delicioso peru com farofa disponível no mercado mundial fora do Dia de Ação de Graças. A taxa líquida de retorno em dólares da Bovespa nos últimos cinco meses foi da ordem de 7% ao mês: praticamente 125% ao ano, contra menos de 1% e 4% dos bônus do Tesouro do Estados Unidos de dois e dez anos, respectivamente.”

Delfim Netto, economista, Folha de S. Paulo, 10.06.09

A valorização do real resulta da combinação de excesso de liquidez do dólar nos EUA, juros internos ainda altos e preços das ações das empresas brasileiras ainda considerados baixos. Embora isso seja ruim para as exportações brasileiras, é uma prova inequívoca da força do país no pós-crise, apesar da recessão técnica.

“É como fazer uma avaliação estrutural após um furacão e perceber que quase tudo ficou de pé. A crise foi uma prova crucial para o arcabouço institucional e macroeconômico. O Brasil passou no teste.”

Paulo Leme, diretor do Goldman Sachs, Veja, 17.06.09

Resta, agora, completar o dever de casa e procurar evitar o excesso de valorização do real, de olho na recuperação dos países desenvolvidos que, tudo indica, deverá ser bem mais lenta do que o imaginado. Se souber evitar os excessos, o Brasil emergirá da crise, paradoxalmente, mais fortalecido do que quando entrou. Mais uma contradição desse grande país de contrastes.