Os 80 anos da crise de 29 ensinaram a evitar depressão econômica mas não crash

Em todo esse tempo, o aprendizado no campo econômico foi tão grande que evitou o mergulho numa depressão enorme, mas não foi o suficiente para coibir a especulação financeira desenfreada
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Sábado passado, o início da chamada Grande Depressão de 29 fez aniversário de 80 anos. Na “quinta-feira negra” de 24 de outubro de 1929 a Bolsa de Valores de Nova York entrou em colapso que foi seguido por mais dois grandes mergulhos, na “segunda-feira negra” (dia 28) e na “terça-feira negra” (dia 29), iniciando um movimento continuado de queda que, quando atingiu o fundo do poço em 1932, tinha feito a Bolsa perder 89% do seu valor em comparação com o pico atingido em setembro de 1929. Entender o que aconteceu é importante para pensar sobre as repercussões da crise de 2008.

“Separadas por quase 80 anos, as crises de 1929 e de 2008 tiveram fatores de criação semelhantes. Ambas foram precedidas por um período de crescimento acentuado da economia mundial e expectativas exuberantes com relação ao futuro, o que gerou euforia nos mercados financeiros, uma valorização artificial no valor das ações e, por fim, pânico e crash.”

Giuliana Vallone da Folha Online
A diferença fundamental entre a crise de 1929 e a de 2008 é que, em decorrência do enorme custo social da Depressão, houve uma grande preocupação acadêmica de estudar o fenômeno para evitar que ele pudesse se repetir de forma tão violenta no futuro. Inclusive, para nossa sorte, um dos grandes estudiosos da crise de 29 é o atual presidente do Banco Central dos EUA Ben Bernanke.

“A cooperação entre BCs é claramente uma lição da crise de 29, que foi aprendida e incorporada”

Renato Colistete, professor da FEA/USP
Pelo que se tem observado dos desdobramentos da crise de 2008, houve grande aprendizado sobre o que fazer para corrigir os efeitos do crash mas muito pouco sobre o que fazer para preveni-lo, em especial no que diz respeito ao controle da especulação financeira.

“1929 e a Grande Depressão que se seguiu ainda permanecem como a referência do tipo de catástrofe que a especulação financeira pode causar.”

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O que impressiona é que, tanto tempo e tanto aprendizado depois, ainda deixe o mundo tão a mercê dos efeitos da especulação descontrolada, em especial quando ela vem do centro do capitalismo mundial, os EUA.

“Oitenta anos depois, a lembrança do aperto de 1929 nunca esteve tão latente. Em 2008, o mundo viu a economia norte-americana entrar em crise. Assim como há 80 anos, o mercado muito confiante e a valorização exagerada dos papéis — agora do mercado imobiliário — descontrolou a realidade econômica. É certo que, até agora, os números foram menos decrescentes. Enquanto em 1929 a taxa de desemprego mundial chegou a 25%, no último ano esse percentual foi de apenas 10%. Mas as comparações foram inevitáveis.

Camille Soares, opovo.uol.com.br
Passado mais de um ano do crash de 2008, a lição que fica parece clara: as autoridades monetária (bancos centrais) e fiscal (secretarias do tesouro e ministérios da fazenda) aprenderam muito bem a lição de como evitar depressões econômicas mas não querem saber como evitar crashs. Conhecem o remédio para os efeitos mas não querem aplicá-los para evitar o estopim. Enquanto isso, a criatividade impera e, mesmo depois de todo o susto de final do 2008 e início de 2009, as instituições financeiras voltam a dar as cartas nos EUA. Até o novo crach, pelo menos.