Vamos torcer para que a decepção provocada pelos números do PIB não seja um retorno ao velho hábito nacional de alternar ciclos de “euforia” com outros de “depressão” cívica
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Na semana passada o governo divulgou o crescimento do PIB no terceiro trimestre e houve decepção generalizada com o percentual, considerado abaixo do previsto. Esperava-se algo em torno de 2% e o verificado foi 1,3%.

“O que os números mostraram é que a economia está se recuperando um pouco mais lentamente do que o previsto pela maioria.”

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central
O fato é que depois da eclosão da crise financeira nos EUA, em setembro de 2008, e dos justificados temores de que seus impactos no Brasil fossem devastadores, o tempo passou, o governo agiu e, depois que a poeira baixou mais um pouco, o que se viu foi um país surpreendentemente resistente. Não que não tenha sofrido com a crise. Tanto sofreu que já se estimam não só o tamanho das perdas quanto os valores financeiros desse impacto.

“A crise econômica internacional custou ao Brasil um recuo de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). É o que indica a variação acumulada do PIB nos quatro trimestres que sucederam à quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, que desencadeou a instabilidade dos mercados globais. (…) Pelos cálculos do economista (Regis Bonelli), antes da crise, o Brasil tinha potencial de crescimento entre 5% e 7% em 2009. Com o crescimento perdido, ele acredita que o País deixará de acrescentar este ano entre R$ 150 bilhões e R$ 210 bilhões à atividade econômica.”

Alexandre Rodrigues, jornalista, OESP, 11.12.09
Esses movimentos de vai-e-vem do humor, reforçado pelas análises, são uma espécie de repetição reduzida de alguns grandes ciclos de “euforia” e “depressão” nacionais.
Com uma visão mais panorâmica da história brasileira desde o Estado Novo, é possível identificar, ainda que de forma muito esquemática, alguns desses ciclos que parecem caracterizar um padrão de períodos percebidos como positivos (ou do tipo “euforia”), seguidos por outros percebidos como negativos (ou do tipo “depressão”).
1.Revolução de 1930 com a queda da “República Velha” (euforia).
2.Estado Novo/Ditadura de Getúlio Vargas (depressão).
3.Redemocratização de 1945 com o fim da 2ª. Guerra Mundial (euforia).
4.Suicídio de Getúlio Vargas (depressão).
5.Eleição de Juscelino Kubitschek /50 anos em 5 (euforia).
6.Golpe militar de 1964 (depressão).
7.Milagre econômico com crescimento acelerado da economia (euforia).
8.Crise internacional do petróleo/Alta inflação (depressão).
9.Redemocratização/Nova República (euforia).
10.Hiperinflação (depressão).
11.Plano Real (euforia).
12.Crises internacionais/Desvalorização do Real/Sucessão Incerta (depressão).
13.Governo Lula (euforia).
14.Crise financeira internacional (depressão).
15.Brasil “bola da vez” na mídia internacional (euforia).
Agora, o que se deve seguir à tão festejada exposição do Brasil na mídia internacional, depois da constatação de que conseguimos passar pela crise sem estragos devastadores como das vezes passadas? Vamos torcer para que não seja algo do tipo: “eu não disse que essa brincadeira não ia durar muito?” Vamos torcer para que, desta vez, o ciclo virtuoso seja bem mais longo.