A semana, uma das mais geniais invenções humanas de todos os tempos

Dividir o tempo, com base nas fases da lua, em períodos de produção intercalados por um dia a ser dedicado ao descanso é uma das mais impressionantes invenções da humanidade
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A propósito do tema do número anterior (GH/787), vale a pena refletir um pouco mais sobre esta extraordinária invenção humana que é a semana. Atribuem-se ao poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade algumas considerações sobre a divisão do tempo em anos que, guardadas as devidas proporções, podem ser aplicadas à semana.

“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí, entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra adiante vai ser diferente.”

Atribuído a Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987
Ao que tudo indica, a divisão do tempo em semanas é uma invenção muito antiga da Mesopotâmia, assimilada pelo povo hebreu, depois assumida pelos gregos e pelos romanos, chegando à nossa era após ter seus dias nominados pelos deuses mesopotâmios, pelos planetas, incluindo o sol e a lua, pelos deuses correspondentes gregos, romanos, nórdicos e variações. Curiosamente, a única língua ocidental que nomina os dias da semana de forma seqüencial (segunda, terça, quarta, quinta e sexta, mais sábado e domingo) é a portuguesa.

“Portugal foi o único país do mundo que adotou os dias da semana derivados quase ipsis literis do latim litúrgico. Os outros países e povos acabaram seguindo uma evolução dos calendários de origem em astros, deuses e do relacionamento do homem com a natureza.”

Wikipedia
Tudo leva a crer também que a preferência mesopotâmica pelo número sete e seus múltiplos no que dizia respeito à semana, e seu acréscimo até completar o mês, baseava-se nas fases da lua, de forma diferente e mais precisa do que os egípcios que dividiam o tempo em múltiplos de dez.

“Os egípcios dividiam cada mês do seu calendário em três décadas, com cinco dias complementares no fim do ano, o que parece indicar terem sido eles os criadores da primeira divisão cronológica que se aproxima da semana que hoje conhecemos. Quase na mesma época, entre os babilônios, o número sete desempenhava papel fundamental: os dias 7, 14, 21 e 28 de todos os meses estavam reservados a certos sacrifícios, mas embora a divisão semanal aí esteja evidente, essas datas correspondiam ao início dos períodos lunares. (…) Entre os hebreus, a semana já estava em uso antes da promulgação da legislação mosaica, pois foi Moisés o primeiro a dividir a obra da criação do mundo em seis dias, seguido do sétimo, dedicado ao descanso. Os judeus concentraram o seu culto no dia de sábado, o Sabath, que era o primeiro dia da semana, o dia sagrado por excelência, aquele que deveria ser passado em contemplação e práticas religiosas. Mas a Igreja cristã o substituiu pelo domingo porque foi num dia desses que Jesus ressuscitado apareceu pela primeira e segunda vez aos apóstolos.”

Site Recanto das Letras, www.recantodasletras.com.br
A semana é, pois, uma impressionante criação que foi aperfeiçoada ao longo da história e consagrou-se planetariamente como a principal divisão social do tempo. Uma marcação que nos permite organizar a vida, dedicando-a ao trabalho e, ao final de cada ciclo, ao descanso, de forma similar à criação. Uma “industrialização” intelectual da produção, da renovação e da esperança. Uma genial invenção humana.