O mundo digital e a subjetividade


Cada vez mais a chamada disrupção digital e as grandes mudanças têm impacto sobre as pessoas, afetando o modo como pensam, suas atitudes e comportamentos. Ana Maria Nicolaci-da-Costa, jornalista e psicóloga, vem estudando de forma sistemática há anos os impactos psicológicos gerados pelas transformações sociais relacionadas às mudanças induzidas pelas novas tecnologias digitais, principalmente pela internet e pela telefonia celular.
Em seus estudos, ela associa a dinâmica de mudanças atual a outros momentos de mudanças impactantes que foram as duas revoluções industriais – no final do século 18, com a descoberta da energia a vapor e na 2ª metade do século 19, com a invenção da energia elétrica, que criaram um padrão radical e abrangente de descontinuidade com a ordem precedente, provocaram devastadoras alterações sociais geradas pelos novos modos de produção e promoveram novas formas de organização social no novo espaço dos grandes centros urbano-industriais.
O ciberespaço, com a singularidade de ter uma dimensão imaginária que é vivida como realidade, induz mudanças na subjetividade, ou seja, mudanças psíquicas, sejam novas percepções, experiências, emoções, sentimentos ou expectativas. Por isso, já se fala em um novo sujeito que manifesta expressivas mudanças nos estilos de agir e de ser, novas demandas e novas necessidades, para as quais seria necessário pensar novos padrões de interação, novas regras de produção e de sociabilidade.
A tendência recomendável é buscar o equilíbrio – sem radicalismo nem adesões precipitadas, sem supervalorização nem menosprezo, como, aliás, convém ser no campo da gestão. E entender os novos desafios.
Se sabemos que o modelo de ontem não está mais adequado nem para hoje nem para amanhã, ainda não temos a mesma convicção sobre o que mudar, por exemplo, para estabelecer parâmetros eficazes de desempenho e produtividade; para definir normas de uso das ferramentas digitais e redes sociais no espaço de trabalho, para estabelecer protocolos coletivos que regulem, sem excesso repressivo, o viés do senso de poder individual; para mobilizar a identificação dos profissionais com os valores e propósitos da empresa; para induzir confiança e legitimação das lideranças.
São questões que, sem dúvida, pela novidade, complexidade e impactos no dia a dia e na gestão, merecem ser retomadas em próximas edições do Gestão Mais.
TRAÇOS DO NOVO SUJEITO DA INTERNET (Nicolaci-da-Costa)
1. Tem prazer no que faz on-line.
2. É multitarefa: faz diversas coisas ao mesmo tempo; é flexível e adaptável.
3. É inquieto e ávido de novas experiências e disposto a experimentar novidades.
4. Conhece poucos limites para os desejos e, por isso, desliza com facilidade para a experiência de onipotência.
5. É ágil, em constante movimento (no campo imaginário), mesmo que o corpo possa estar parado e consegue, pela experiência digital, e não pelo corpo, habitar vários espaços e acessar diferentes realidades, culturais, imaginárias ou sociais.
6. Pode se apresentar com identidades diferenciadas nos diferentes espaços e construir diferentes narrativas sobre si, verídicas ou não, sinceras ou não, anônimas ou não, o que o torna cada vez mais singular e autorreferido.
7. Ganha conhecimento sobre si mesmo a partir do que publica e dos retornos que tem e submete as definições de si mesmo a constante revisão.
8. Redefine continuamente as esferas do público e do privado e, muitas vezes, tem dificuldade de se proteger dos excessos gerados pela mobilidade e exposição.
Gestão Mais é uma coluna da TGI na revista Algomais. Leia a publicação completa aqui: www.revistaalgomais.com.br