O stress tem sido um tema constante na literatura que trata das questões relevantes da gestão empresarial contemporânea. A observação da realidade cotidiana das empresas e da atuação dos seus executivos leva a considerar que, em relação ao assunto, existem alguns mitos que merecem ser comentados.
O stress tem sido tratado, frequentemente, como um custo inevitável da vida moderna, sobretudo em se tratando da vida de empresários ou executivos de empresas.
Há duas frases que são comumente ouvidas quando se fala desse tema:(1) quem trabalha muito perde qualidade de vida; e (2) a alternativa para não sucumbir ao stress é dedicar mais tempo ao lazer.
Embora existam componentes de verdade nas duas frases, há nelas, pelo menos, dois aspectos que não podem deixar de ser destacados pelo que têm de mito.
Primeiro: embora seja verdade que o excesso de trabalho pode por em risco a qualidade de vida, não é bem pela quantidade mas pela qualidade do que se faz que isso acontece.
É deste modo que se pode, por exemplo, terminar um dia de trabalho numa jornada de quartorze horas com excelente humor e disposição para “viver a vida” ou, por outro lado, pode-se encerrar um período bem “normal” de oito horas, exausto e sem ânimo para nada.
Não é, portanto, o somatório das horas que tira qualidade de vida e, sim, os conflitos associados ao trabalho, principalmente os que não podem ser falados ou enfrentados. São eles que, muito mais que a carga horária, produzem stress.
Segundo: embora o lazer seja fundamental, para relaxar, “desanuviar” a mente ou restaurar a energia física, não é o lazer em si, mas o prazer a ele associado que pode produzir esses efeitos.
Não é a relação trabalho x não lazer que produz stress, mas sim a dupla trabalho x não prazer.
Quando o trabalho é fonte de satisfação, de realização produtiva ou de produção de energia criativa, o lazer deixa de ser a única alternativa de sobreviver com qualidade de vida. Nesses casos, o próprio trabalho faz parelha com o lazer.
Se, ao contrário, trabalho é só dever, sacrifício ou culpa, o lazer torna-se a fonte “mitológica” de realização dos desejos de “descanso.” E, como todo mito, transforma-se em algo inatingível.
Embora a realidade já tenha se encarregado de evidenciar que, em relação a esse tipo de coisa, não há receitas prontas e aplicáveis a qualquer caso, existem algumas atitudes que ajudam a lidar com a questão.
Por exemplo, trabalhar com prazer e ter prazer com o resultado do trabalho, não negar nem mascarar os conflitos e conviver em paz com a carga horária escolhida, mesmo que seja “alta”, talvez seja mais eficaz para enfrentar o “monstro” do stress do que abusar do “mea culpa” permanente, do gênero: “estou trabalhando demais e perdendo qualidade de vida.”
Parafraseando Millôr Fernandes, pode-se dizer que o trabalho quando feito com satisfação não oferece nenhum perigo, mesmo em grandes quantidades. Pelo contrário, pode, até, diminuir a necessidade de lazer.