Há uma espécie de permanente debate em torno de qual o melhor perfil para o executivo hoje em dia. Aquele que tem capacidade de sonhar, propor metas ambiciosas ou aquele pragmático que tem os pés firmemente fincados no chão e não perde tempo com elucubrações que só desviam a empresa do rumo certo?
Em defesa do primeiro tipo, poder-se-ia repetir, de uma forma muito direta, o que já disseram pensadores influentes de épocas diversas.
“Vivemos mais dos sonhos do futuro do que dos planos do passado.”
Thomas Jefferson, 1743-1826, estadista dos EUA
“Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.”
Victor Hugo, 1802-1885, escritor francês
“Nem as grades de uma prisão conseguirão destruir os nossos sonhos.”
Nelson Mandela, líder sul-africano
De fato, sem a capacidade de pensar naquilo que nunca foi feito, nem as pessoas nem as empresas progrediriam. Tudo seria, no mínimo, uma mediocridade só. Henrique Meirelles, brasileiro, presidente mundial do BankBoston, chega a ser enfático a respeito do assunto.
“Se pudesse resumir toda a complexidade que envolve liderança a uma idéia seria a de que liderar é transmitir um sonho. É preciso inspirar as pessoas a chegar a um lugar em que elas ainda não estão.”
Henrique Meirelles, revista Veja, 07.03.2001
Em contrapartida, poder-se-ia dizer, em defesa do pragmático, que sem uma dose forte de realismo qualquer aventura empreendedora se transforma em desastre. Ninguém menos que Karl Marx já fez esse alerta antes do início do século passado.
“Países e instituições que não levam em conta a realidade são pagos com a mesma moeda. A realidade também não os leva em conta.”
Karl Heindrich Marx, 1818-1883, filósofo alemão
Como resolver, então, o impasse? O sociólogo italiano Domenico De Masi construiu um pensamento interessante sobre o assunto, já reproduzido no número 324. Defende ele a tese (dentre as inúmeras que defende) de que a criatividade é a “pedra de toque” da gestão moderna e ela resulta, justamente, da junção “de fantasia e realização”. Ou seja, em outras palavras, de sonho e pragmatismo. Todavia, reconhece De Masi, que “é difícil encontrar alguém muito fantasioso, criativo e efetivo ao mesmo tempo”. Para resolver, então, a contradição propõe ele:
“…podemos desenvolver a criatividade coletiva, gerada por grupos em que uns têm maior fantasia e outros, maior capacidade de realização.”
Domenico De Masi, Você S.A./março 1999
Aí, certamente, está a chave da questão: o trabalho em grupo. Para desenvolver o que ele chama de criatividade coletiva, que possibilitaria, na prática, a “química” da junção do sonho com o pragmatismo, da fantasia com a realização, o trabalho em grupo é a grande pedida. É ele que, quando bem realizado, permite o exercício das duas facetas fundamentais sem que elas se anulem e, pelo contrário, funcionem como propulsores distintos mais complementares do bom desempenho da empresa.