Coincidindo com o aniversário de três anos do lançamento da URV, tiro de largada do Plano Real, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe) divulgou o seu índice de Preços ao Consumidor (IPC) do mês de fevereiro: 0,01%, o menor desde dezembro de 1958, quando a variação foi zero.
Também coincidindo com este aniversário, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do país em 1996: 2,91%, o que representou um crescimento 1,52% do PIB per capita (já que o crescimento populacional no ano foi de 1,36%).
Esses índices reforçam uma característica da economia na vigência do Plano Real: combinação de inflacão baixa com crescimento também baixo.
A esses dois componentes agrega-se um terceiro de potencial explosivo no médio prazo: déficit público alto e dívida pública crescente.
Estudo feito pelo professor Márcio Garcia da PUC-Rio, divulgado por Celso Pinto, em sua coluna de 09.03.97 no Jornal do Brasil, conclui que a inflação de 1996 teria sido de 113% se o governo tivesse querido financiar o déficit em suas contas (receitas-despesas), que foi de 3,9% do PIB, com a emissão da moeda, como era feito no passado, e não com o lançamento de títulos públicos, como se faz desde o início do Plano Real. A emissão de títulos públicos não produz diretamente inflação mas aumenta a dívida pública.
Daí, pode-se concluir que o que está financiando a inflação baixa é a divida alta. Desde a implantação do Plano Real, o estoque da dívida pública triplicou (Folha de São Paulo, 08.03.97)
“Só que não dá para aumentar a dívida indefinidamente: seu custo ficará tão alto que o mercado terá medo de financiá-la. Por esta razão, é impossível conciliar, durante muito tempo, déficits públicos com inflação baixa. Ou some o déficit ou volta a inflação” (Celso Pinto, citando o professor Márcio Garcia).
Para acabar com o déficit, a prescrição é clássica: aumentar receitas e diminuir despesas. Do lado das receitas, foi feito um extraordinário esforço de aumento da arrecadação que vem batendo recordes anuais sucessivos. Hoje, a carga tributária no Brasil (segundo estudo do grupo financeiro norte americano Goldman Sachs, divulgado na Folha de São Paulo de 08.03.97 ) já é a maior da América Latina: 33% do PIB. Do lado das despesas, o governo tem se defrontando com os inúmeros “ralos da República” (má utilização dos recursos públicos, fraudes da Previdência, máfia do orçamento, superfaturamento de obras etc.) e vem sendo surpreendido pelos “esqueletos encontrados no armário” (desequilíbrio atuarial da Previdência, dívidas dos estados, rombo do fundo de variações salariais do Sistema Financeiro da Habitação, alto estoque de moedas pobres etc). Não é fácil.
Nada disso, no entanto, é novo. Todos os ingredientes estão em cena desde o início do Plano Real. Não há receitas mágicas para resolver, a não ser muito trabalho. O objetivo desejado da estabilização duradoura, inflação baixa com crescimento alto e melhor distribuição de renda, ainda é um alvo distante, embora alcançável.
Para as empresas, o reforço da constatação : continuar trabalhando sem descanso na melhoria da qualidade dos produtos, no enxugamento dos custos, no aperfeiçoameto da gestão, no encurtamento da distância com os clientes, no acompanhamento atento dos passos da concorrência, no esforço de continuamente procurar superar suas próprias performances. E, também, não esperar facilidades macroeconômicas por que elas não virão tão cedo.