“Cheguei à conclusão no ano passado de que tudo que tinha acumulado de conhecimento ao longo de 30 anos de carreira não valia mais nada.”
Júlio Ribeiro, presidente e fundador da agência Talent, revista ISTOÉ, 11.11.98
Em recente entrevista, o publicitário Júlio Ribeiro foi direto à questão. É muito grande o número de empresas que, hoje em dia, se vêem diante de um dilema parecido: o conhecimento acumulado ao longo de anos fica insuficiente para lidar com uma realidade de mercado nova e muito mais exigente. Estruturas internas caras e defasadas, clientes que demandam qualidade diferenciada e preços baixos, concorrentes mais ágeis e muito mais agressivos, pessoal desmotivado, pânico. Um coquetel de problemas, feito sob medida para o fracasso. O que fazer ? É preciso agir, e rápido.
Em primeiro lugar, sem perder de vista que a perspectiva no próximo ano é de desaquecimento da economia e, mesmo, recessão, considerar seriamente que o impacto da crise não é igual para todo mundo. Ou seja, não esquecer aquilo que, hoje em dia, já virou lugar comum: o conceito de crise é formado pela superposição dos conceitos de problema e de oportunidade. Isso pode ser comprovado na prática ao se verificar como, em épocas de crise econômica, ao mesmo tempo em que uns perdem espaço e vendas, outros têm ganhos de mercado. Afinal, mesmo sem crescer, a economia continua girando e o dinheiro mudando de mãos.
“Eu vou fazer uma palestra esses dias e o tema é ‘O dinheiro continua lá, o que mudou foi a combinação do cofre’. Quando olhamos os números da economia brasileira, com PIB de quase US$ 1 trilhão, e os comparamos com outros países, vemos que o Brasil, enquanto capacidade econômica, não tem nenhuma semelhança com os tigres asiáticos – nosso PIB é duas vezes e meio o da Rússia. Com esse volume de dinheiro em circulação, uma eventual redução da atividade econômica ainda deixa uma massa crítica de coisas acontecendo que permite a qualquer empresa se desenvolver e muito.”
Júlio Ribeiro, ISTOÉ, 11.11.98
Em segundo lugar, é fundamental disseminar esta visão na empresa pois, assim como as andorinhas, as convicções solitárias não fazem verão. Mobilizar as forças de impulsão para que elas empurrem as mudanças que precisam ser feitas e ajudem a quebrar os imobilismos fatais. A pior coisa que pode acontecer é a paralisação. É preciso avançar, sem ativismos inconseqüentes mas, também, sem descanso.
Os momentos de restrição econômica são muito delicados. Dá-se uma mobilidade muito grande de posições no mercado. As ortodoxias são desafiadas, os tradicionalismos são questionados e aparecem muitos “animais novos na floresta.” A maioria, do mesmo jeito que aparece, desaparece. Outros, não: conquistam um território e se instalam nele. Para quem já estava na “floresta”, o momento é de preservar o seu território e aproveitar bem as chances de aumentá-lo. Ou seja, precisa não só continuar conhecendo a combinação do cofre como descobrir outras novas.
Se, a despeito disto, a combinação muda e constatamos que não sabemos mais como chegar ao dinheiro, a lógica manda que procuremos aprender a nova. Isto não se consegue nem com paralisia nem com afobação. O segredo é aliar calma e determinação. Determinação por razões óbvias. Calma para não instalar o pânico e o salve-se quem puder na equipe. Um executivo ou um gerente “descabelado” é uma péssima vitrine para os clientes e, o que neste caso ainda é pior, para os gerenciados.
Desafio 21
Leia no caderno Oportunidades, todo domingo no Jornal do Commercio, a coluna Desafio 21. O que há de mais atual sobre Gestão & Competitividade está lá. Uma produção conjunta da Rede Gestão e da JCR & Calado, com criação gráfica da Aporte. |