Com a popularidade em queda livre, o presidente Fernando Henrique Cardoso atinge os mais altos índices de rejeição de seu governo, equiparando-se àqueles atingidos por José Sarney e Fernando Collor quando deixaram o Palácio do Planalto. (E, o que é mais grave, FHC está apenas no início do seu novo mandato). Com baixa popularidade, todo governo entra no inferno astral e fica desacreditado.
Desde que houve a desvalorização forçada do real, a avaliação do presidente (talvez a que tenha permanecido durante mais tempo em alta na história política recente do país) descolou-se da avaliação da estabilidade da economia (interrupção da inflação) e começou a cair aceleradamente. Em seqüência tivemos, dentre outros episódios enfraquecedores da autoridade presidencial: CPI do Judiciário, CPI dos Bancos, Mudança do Ministério, Fábrica da Ford na Bahia, Greve dos Caminhoneiros, Marcha dos Ruralistas sobre Brasília. Sem falar na onipresente ocupação de espaço empreendida pelo oportunismo político do senador Antônio Carlos Magalhães que trata, com desenvoltura impressionante, desde o combate à pobreza, passando por política industrial, até a proibição do aumento da gasolina… O senador baiano sabe, como ninguém, que, assim como acontece na natureza, o poder não admite vácuo. Alguma coisa ocupa o lugar que se esvazia.
Como se isso não bastasse, agora a crise de credibilidade chega ao dólar que atinge a sua cotação mais alta desde março, ultrapassando a casa de R$ 1,90 e obrigando à intervenção do Banco Central no mercado.
É verdade que existem vários outros fatores pressionando o dólar: (1) suspeita de não cumprimento das metas fiscais acertadas com o FMI (os superávites conseguidos até agora foram decorrentes de receitas extraordinárias que não se repetirão daqui para a frente); (2) falta de reação da balança comercial; (3) instabilidade da economia argentina; (4) ameaça de subida dos juros norte-americanos; (5) crescimento econômico medíocre. Além disso, existe em andamento um processo de fritura do ministro Pedro Malan, cujo posto é bastante cobiçado pelo PSDB e pelo PFL. Todavia, é a perda de densidade política do presidente que agrava tudo isso e eleva a incerteza ao ponto dela se transformar em crise de credibilidade. O que é perigoso, dada a fragilidade estrutural da estabilidade da economia, cujo principal avalista pessoal sempre foi o presidente. O que dizer de um avalista cuja capacidade de honrar os compromissos assumidos (e não foram poucos) é colocada em dúvida?
Na situação em que está o presidente não só põe em risco sério a estabilidade conseguida como equipara-se politicamente aos dois presidentes que o antecederam, o que não ajuda em nada à causa da democracia no Brasil.
Tecnicamente, ainda há tempo para reverter a situação, como um time que, aos 8 minutos do segundo tempo, com o placar adverso, pode virar o jogo. Todavia, pelo jeito como está a movimentação em campo e pelo ânimo da torcida, é prudente começar a trabalhar com a idéia de que talvez tenhamos que amargar um resultado ruim e adiar a expectativa de vitória para o jogo seguinte, com outro técnico. A não ser que aconteça uma surpresa e o jogo mude. Afinal, reza a sabedoria futebolística que, enquanto não for dado o apito final, há esperança.