Qual é mesmo o problema?

 
A pergunta parece tola (e talvez seja, mesmo) mas é muito pouco feita no dia-a-dia das empresas e organizações. O que mais se vê são pessoas procurando, às vezes desesperadamente, soluções para problemas que desconhecem ou que não estão adequadamente formulados. Por que será que isso acontece? O ex-ministro do Planejamento João Sayad arrisca uma resposta:

“Resolver problemas é muito mais fácil que formulá-los.”

João Sayad, Folha de S. Paulo, 19.07.99

Além disso, geralmente as pessoas encarregadas dessas soluções têm responsabilidade gerencial e, portanto, se obrigam a “fazer as coisas acontecerem” (afinal, o mínimo que se espera de um gerente é que faça as coisas acontecerem…). Pressionadas por esta responsabilidade, tendem a embarcar no ativismo e talvez achem perda de tempo pensar “além da conta”, arrematam a compreensão do problema e partem logo para a solução. Trata-se de um engano freqüente e, infelizmente, muito caro. Eliezer Batista, um dos maiores estrategistas brasileiros, criador da Companhia Vale do Rio Doce, duas vezes ministro de estado, cita, com ironia, uma frase que considera “uma pérola de pensamento semiótico” sobre o assunto:

“Seu problema não é aquilo que você não sabe, é aquilo que você pensa que sabe e não é aquilo.”

Bill Rogers, citado por Eliezer Batista, revista Insight Inteligência, 01, nov-dez/97  jun/98

Dedicar um tempo minimamente suficiente a pensar no problema para o qual estão sendo buscadas as soluções economiza muito tempo e dor de cabeça. O economista Roberto Campos e o publicitário Roberto Duailibi já se utilizaram de frases do filósofo Alfred Whitehead e do cientista Albert Einstein para tratar do assunto:

“Metade da ciência não é dar respostas exatas e sim fazer as perguntas corretas.”

Alfred Whitehead, matemático e filósofo inglês, segundo Roberto Campos, coluna de 15.09.96

“Um problema está 50% resolvido se estiver bem formulado.”

Albert Einstein, citado por Roberto Duailibi em palestra na UFPE, 05.10.98

Por falta da necessária formulação do problema que se quer resolver, muitas vezes são encontradas soluções muito boas para problemas errados. Justamente por serem boas e, portanto, atraentes, essas soluções inadequadas terminam por causar prejuízos sérios. Nem mesmo consultores competentes, se desatentos,  escapam dessa armadilha.

“Uma das maiores causas de fracassos em projetos de consultoria é achar uma solução brilhante para a questão errada.”

Maurízio Mauro, presidente da Booz-Allen no Brasil, revista Exame, 02.12.98

Por isso, uma recomendação para qualificar a ação gerencial: antes de partir para a solução, por mais atraente que ela possa ser, pergunte-se e dê-se tempo para responder “qual é mesmo o problema que estou querendo resolver?” Isso pode economizar muito tempo e dinheiro no futuro.

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