Um dos mais difundidos mitos da gestão empresarial, em todos os tempos, é o da liderança carismática. Aquela que guia os destinos das organizações e das pessoas, definindo o rumo, indicando os caminhos, inspirando pelo exemplo, motivando, decidindo, sempre da melhor maneira possível.
Nada contra o líder inspirador. Ele tem importância capital quando a empresa está iniciando, passa por uma crise, enfrenta uma situação inusitada de mercado ou coisa parecida.
“Na crise, não existe liderança compartilhada. Quando um barco está afundando, o capitão não pode convocar uma reunião para ouvir pessoas.”
Peter Drucker, revista Exame, 14.01.98
Fora dessas situações, todavia, depender sempre de um líder inspirador para tudo que é relevante passa a ser contraproducente. Dependendo do tamanho da empresa ou área liderada, chega a ser desesperador. Por uma razão muito simples: o líder fica sobrecarregado, falta tempo, tende a ficar irritado e, inevitavelmente, a errar com mais freqüência ou paralisar o processo decisório.
A observância da realidade das organizações e empresas bem sucedidas, por períodos de tempo que vão além de intervalos restritos, aponta para a importância essencial do desenvolvimento de processos de compartilhamento ou “colegiamento” da gestão.
O problema é que esse “colegiamento” tem sido confundido com quebra de hierarquia ou perda de autoridade. É compreensível. Mas é preciso ir além e entender que trata-se de um preconceito a ser superado sob pena de comprometer o desempenho e mesmo, não raro, a sobrevivência das organizações centralizadas. A liderança, a hierarquia e a autoridade não podem deixar de ser preservadas. A liberdade para participar da gestão não pode ser confundida com o desmantelamento da autoridade para decidir.
“As pessoas que crêem na liberdade sabem que ela só existe sob condições, sob regras. É por isso que creio numa conexão estrita entre liberdade e autoridade. Não há liberdade sem autoridade.”
Laurent Lapierre, professor-pesquisador titular da Escola de Altos Estudos Comerciais da Universidade de Montreal-HEC, autor do livro “Imaginário e Liderança”, revista Amanhã, janeiro/2000
A experiência mostra que o funcionamento colegiado da gestão (o líder e os diretores ou gerentes das área de negócio), de forma periódica (como regra geral, uma reunião de duas horas por semana é suficiente), qualifica enormemente o processo decisório. Bem executado é um alívio, ao mesmo tempo, para quem lidera e para aqueles que têm responsabilidade de liderar as equipes de trabalho. Além disso, representa um ganho adicional, e inestimável, de coesão e co-responsabilidade na condução da estratégia, de aliança para enfrentar riscos e de solidariedade para produzir soluções ante as dificuldades. Um alívio para o peso da decisão solitária.