Laerte é, talvez, o mais versátil e produtivo cartunista da atualidade no Brasil. Publica tiras diárias de humor no Jornal do Brasil (Condomínio), Folha de S. Paulo (Piratas do Tietê) e Valor Econômico (Bagatela). Na Folha, além da tira diária no caderno Ilustrada, publica outras em praticamente todos os cadernos semanais do jornal. Dá vida a uma galeria de dezenas de personagens, todos bastante originais. Sua produção pode ser observada no site www.laerte.com.br.
Numa dessas tiras semanais (Suriá, a Menina do Circo), publicada no caderno Folhinha, Laerte desenhou Suriá, seu irmão e a mãe em visita a um aquário. Na primeira parte da tira, Suriá, olhando os peixes através do vidro, pergunta à mãe se eles (os peixes) “não têm vontade de sair dali”; a mãe responde: “acho que não”. Na segunda parte da tira, um peixe pequeno, junto a um menor que parece ser seu irmão, olhando através do vidro, pergunta a um peixe maior que parece ser sua mãe se eles (Suriá, seu irmão e sua mãe) “não têm vontade de sair dali”; o peixe-mãe responde: “acho que não”.
Essa tira, além de ser uma obra-prima do humor em quadrinhos, funciona como uma excelente metáfora para questão da inovação empresarial.
Clemente Nóbrega, físico e Diretor de Marketing do plano de saúde Amil, autor de livros de administração e de artigos polêmicos na revista Exame, tem uma frase instigante sobre a questão da inovação empresarial.

“…as duas funções empresariais básicas, as duas que produzem resultados, são marketing e inovação. O resto é custo, como ensina Peter Drucker. Se marketing tem a ver com o que você faz para que as pessoas comprem de você hoje, inovação é o que você tem de fazer hoje para que elas continuem comprando amanhã.”

Clemente Nóbrega, http://www.clementenobrega.com.br

A empresa que não inova está comprometendo o futuro porque está deixando de atualizar seus produtos. Todo e qualquer produto, por melhor que seja, está fadado a morrer. Quanto à empresa, não necessariamente, desde que incorpore a inovação como uma prática constante.
A questão que surge, após essa constatação, é: “se a inovação é tão essencial assim, então como fazer para garantir que ela aconteça?”. Apesar de não se ter conseguido ainda uma receita pronta e acabada (e é de suspeitar que nunca se venha a conseguir), uma boa coisa a fazer é procurar, sempre que possível, sair do “aquário” do dia-a-dia e abrir novas “janelas” por onde se possa vislumbrar o futuro.
Para isso, é preciso estar atento ao que José Predebon chama (no seu bom livro “Criatividade – Abrindo o Lado Inovador da Mente”, editora Atlas, 1998, São Paulo) de “doenças” inimigas da inovação na empresa: (1) Normolite (excesso de normas); (2) Retite Visual (estratégias rigidamente frontais); (3) Humorfobia (postura séria e contida); (4) Corretite (estrita obediência a números); (5) Especialite (segmentação total de processos); (6) Carneirite (obediência cega ao consenso); e (7) Negativite (cultura da segurança total).
São “doenças” decorrentes da inescapável contradição presente em qualquer empresa: para sobreviver, é preciso, por um lado, preservar o que há de bom, bem feito, bem sucedido ou, mesmo, o que todo mundo está acostumado a fazer porque dá certo; mas, por outro, para evitar o fracasso decorrente da acomodação, é preciso mudar. Só que preservar é mais fácil que mudar. Por isso que são criadas as paredes do “aquário”.
“Sair do aquário” é diferente de “quebrar o aquário” (situações radicais de mudança). Na grande maioria das vezes, se a prática de “sair” for estabelecida com assiduidade não é preciso “quebrar”. No próximo número (se a economia permitir), procuraremos ver o que pode ser feito para facilitar essas “saídas”.