Na quarta-feira 18.07.2001 o Banco Central efetivou o quinto aumento consecutivo da taxa básica de juros elevando a Selic de 18,25% para 19% ao ano. O aumento foi considerado moderado pelo mercado que esperava uma investida maior do BC na forma de um choque de juros para fazer face aos efeitos do contágio provocado pela prolongada agonia da economia argentina.
Para o economista Afonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, essa “pequena” elevação é uma evidência inconteste de que o governo já decidiu pela solicitação de nova ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O acordo atualmente em vigor termina em primeiro de dezembro deste ano e foi acertado em dezembro de 1998, um mês antes da flutuação do real, o que foi essencial para que o país pudesse realizar a turbulenta travessia do regime de câmbio administrado para o flutuante. Foi o 16º empréstimo tomado pelo Brasil ao Fundo desde o primeiro em 1958. Ao contrário dos anteriores, sobretudo os últimos, foi um acordo bem cumprido, a ponto de o Brasil ter chegado a antecipar parcelas da restituição prevista. Segundo a revista Dinheiro, número 204, “nos 55 anos de história do FMI, nenhum país fez o dever de casa com tanto esmero quanto a atual República tupiniquim“.
Com esses antecedentes, a opção pela renovação do pedido de socorro ao FMI parece compensar o desgaste que inevitavelmente trará ao governo na campanha sucessória. O problema é que o país precisa de dólares para fechar sua contas externas e a conjuntura não está nada favorável.
Três fatores (dois externos e um interno) contribuem decisivamente para isso. Em primeiro lugar, a interminável crise argentina. Em segundo, a desaceleração da economia mundial, puxada pelo desaquecimento dos EUA e pela estagnação decenária do Japão. E, em terceiro, a grande burrada do racionamento de energia. Todos esses fatores redobram as precauções dos investidores na hora de decidir mandar dólar para o Brasil, seja porque não sabe como será o contágio (Argentina), como se comportará a economia desaquecida (Global) ou se vai haver energia para a produção e o consumo (Racionamento).
Toda essa dúvida se reflete nas expectativas internas que pressionam a cotação do dólar. A coisa funciona mais ou menos assim: (1) o governo precisa de dólares novos para fechar suas contas externas (mais de US$ 50 bilhões em 2001/2002): (2) há desconfianças crescentes sobre a disposição dos investidores internacionais de disponibilizarem esses recursos, seja na forma de empréstimos, seja na forma de investimentos produtivos; (3) sem terem certeza que conseguirão dólares no mercado interno para saldar seus compromissos futuros em moeda estrangeira, as empresas antecipam sua compras no presente. Resultado: com a procura maior do que a oferta, o preço sobe e a cotação dispara.
Excessivamente dependente de recursos externos, resta ao governo atuar com os instrumentos de política monetária de que dispõe e aumentar os juros para tornar mais atrativo o mercado financeiro interno ao investidor externo e evitar, pelo desaquecimento da demanda, que a valorização do dólar seja repassada para os preços e comprometa as metas de inflação.
Todavia, essa política tem um limite: para serem atraentes, os juros têm que aumentar muito e quando isso acontece o déficit aumenta também, estourando as metas do endividamento público.
O que fazer? Como a iniciativa tomada pelo governo falhou (ver número 332), resta o plano B: pedir, de novo, socorro ao FMI. Com isso, seria possível tranqüilizar o mercado porque estaria assegurada uma parte substantiva dos recursos necessários ao fechamento das contas externas até o final do atual governo. Apenas um “pequeno” inconveniente: a retomada do crescimento passa a ser uma esperança cobrável apenas do próximo governo.