2001 começou a existir muitos anos antes, precisamente em 1968, quando foi lançado o filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Depois dos acontecimentos recentes, vale a pena pedir mais vez ajuda à industria cinematográfica para caracterizar o nosso estado atual. Trata-se do empréstimo do título do excelente filme O Ano em que Vivemos em Perigo de 1982, direção de Peter Weir, com Mel Gibson e Sigourney Weaver.
De fato, depois de ter começado, do ponto de vista econômico, como o mais promissor dos anos da era do real, com crescimento previsto de 4,5%, inflação de 4%, dólar estabilizado, juros em queda, o que vemos é a materialização de, talvez, o pior dos anos recentes. Pelo menos a julgar pelo clima reinante no encerramento econômico da semana passada, a primeira após os atentados terroristas.
Depois de quatro dias fechada, a Bolsa de Nova York teve a pior semana desde 1933, com o índice Dow Jones recuando 14,3% e concretizando a perda de US$ 1,38 trilhão, quase três PIBs do Brasil. Por aqui, apesar das intervenções do Banco Central, o dólar bateu todos os recordes e fechou cotado a R$ 2,835.
O presidente do BC, Armínio Fraga, em depoimento no Congresso Nacional, listou os cinco choques superpostos enfrentados pela economia brasileira que estão ajudando a pressionar o dólar para cima: (1) crise da Argentina; (2) proximidade da eleição presidencial; (3) desaquecimento mundial; (4) crise de energia; e (5) ataque terrorista aos EUA.
O ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, em sua coluna semanal na Folha de S. Paulo, depois de ponderar que o quadro de dificuldades que se armou após os atentados “vai pegar o mundo emergente, e do qual o Brasil faz parte, em uma situação muito delicada“, chega a ser contundente:
“… a crise dos próximos meses para nós, brasileiros, será mais terrível do que a enfrentada em 1998.”
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 21.09.2001
Essa naturalmente é a visão mais pessimista, sempre recomendável de considerar quando se enfrentam situações difíceis (ver a propósito número 188). Existem outras como as de Paul Krugman e Rudiger Dornibush, dois economistas normalmente pessimistas, que escrevendo sobre os episódios recentes, mostram-se mais animados que de costume.
“O futuro pode parecer incerto, mas as perspectivas econômicas não são tão sombrias quanto os céus de Nova York possam nos ter levado a acreditar.”
Rudiger Dornibush, 16.09.2001
Pelo sim, pelo não, a melhor atitude é de cautela. Do ponto de vista macroeconômico, o mar que já não estava para peixe desde que a crise de energia se abateu sobre os ânimos, agora ficou ainda mais revolto.
É hora de trabalhar e torcer. Trabalhar para superar a falta de ajuda que a macroeconomia dará aos negócios, pressionada como está por fatores internos e externos. Torcer para que o perigo fique só no título do filme e o bom senso prevaleça na luta que terá que ser travada contra os novos perigos do mundo.
Sobre o Número Anterior
1. Por um lapso, na edição enviada aos assinantes por fax, não saiu o nome de Nicolau Maquiavel, autor da úlima citação do texto.
2. A Associação Brasil-América (ABA), parceira do Gestão Hoje na tradução de suas edições para o inglês, solicita a reprodução do seguinte esclarecimento: “A opinião
expressa no sexto parágrafo do Número 344 de 17 de setembro de 2001 não é compartilhada pela diretoria e pelo conselho da Associação Brasil-América (ABA).”