A boa herança institucionalde Fernando Henrique Cardoso

 
O Gestão Hoje, ao longo da era FHC, nunca se furtou de fazer as críticas que julgou pertinentes ao desempenho do governo e às atitudes presidenciais equivocadas (basta acessar o site www.gestãohoje.com.br e digitar “FHC” no local de busca para verificar todos os números que tratam do tema).
Todavia, é de justiça, ao aproximar-se o final da gestão, dedicar esta edição a um breve balanço do que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso deixou de positivo para o país, já que seus equívocos foram suficientemente assinalados em números anteriores.
De acordo com o historiador e professor titular da UFRJ, José Murilo de Carvalho (Folha de S. Paulo, 20.10.2002), o legado positivo de Fernando Henrique Cardoso pode ser resumido do seguinte modo:

“… a estabilidade da moeda, o aumento da transparência nas ações governamentais, a luta pela responsabilidade fiscal, o comportamento consistente, tolerante e democrático do presidente, o prestígio internacional que conferiu ao país, o acerto de contas com as vítimas da ditadura, a luta constante em favor dos direitos humanos, os avanços na área da educação fundamental e, finalmente, a passagem tranqüila do governo ao sucessor.”

José Murilo de Carvalho

Esse depoimento reforça a tese de que o principal legado de FHC ao país é institucional e não econômico, já que, no período, segundo Luiz Carlos Bresser Pereira, “o Brasil alcançou a estabilidade de preços mas não o equilíbrio macroeconômico.â€?
O jornalista Luís Nassif, por sua vez, também reforça a tese de que o principal legado de FHC é institucional:

“No plano institucional, a consolidação da estabilização econômica, da democracia, a implantação de novos conceitos de políticas sociais, o início da reprofissionalização do serviço público, o início do trabalho de avaliação da educação, a privatização de setores como telecomunicações e ferrovias, o retorno da visão de planejamento são conquistas insofismáveis.”

Luís Nassif, Folha de S. Paulo, 11.10.2002

Mesmo críticos contumazes de Fernando Henrique, como é o caso do escritor e humorista Luis Fernando Veríssimo, opositor de primeira hora, reconhecem nele, não sem um toque de ironia ferina, essa capacidade notável de representação institucional:

“… será lembrado como um homem democrático e tolerante que nos orgulhou lá fora, e está garantindo, com sua postura, o que antes era considerado impensável, a posse de Lula na presidência. Eu sempre disse que o Fernando Henrique era o melhor presidente que o Brasil já teve, só estava fazendo um mau governo.”

Luis Fernando Veríssimo, IstoÉ Gente, 11.11.2002

Esse destaque dos aspectos positivos do governo FHC é importante para resgatar algo esquecido na disputa eleitoral, ainda recente, que contamina as percepções. Como no calor emocional das disputas futebolísticas, as qualidades do time querido e os defeitos do adversário são radicalizados ao extremo. O equilíbrio, porém, é necessário para o exercício democrático e para a adequada compreensão do que, de fato, aconteceu.
O próximo governo assumirá com uma situação econômica que inspira cuidados mas o fará também recebendo uma boa base institucional de herança do período Fernando Henrique Cardoso. O país ganha com isso, pois avanço institucional é sinal de maturidade política e social.

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