EUA cometem um erro primário:subestimar o inimigo e ficar vulnerável

 
Já se disse à vontade e com toda propriedade, que a primeira vítima de uma guerra é a verdade. Por isso, é sempre difícil tirar conclusões com base no que é noticiado pelas partes envolvidas.
Nessa guerra do Iraque, então, isso está sendo evidenciado de modo intenso. Certamente é a guerra mais amplamente coberta pela imprensa na história, ao vivo e a cores. Paradoxalmente, todavia, essa cobertura está sendo objeto de um controle nos EUA nunca também visto na história. Além da autocensura praticada por praticamente todos os veículos sob inspiração direta do Pentágono, ainda se está verificando um impressionante show de parcialidade, isso na autoproclamada “pátria da liberdade e da democracia”.
Todavia, mesmo com a desconfiança que devemos ter sobre o que lemos e vemos relativamente à guerra, um fato parece sobressair de modo incontestável das notícias veiculadas sobre o conflito: os EUA cometeram um erro estratégico importante e, ao que parecem indicar os fatos, estão em processo de revisão. Pelo menos, é o que se pode deduzir das palavras atribuídas ao general William Wallace, comandante das forças terrestres em território iraquiano, em entrevista ao jornal “The Washington Post”.

“O inimigo com o qual lutamos é diferente daquele para o qual havíamos nos preparado.”

William Wallace, general norte-americano

Essa declaração abre a perspectiva para a observação da falha de estratégia. Amparada na chamada Doutrina Bush e posta em prática pelo secretário de Defesa Donald Rumsfeld, a ofensiva inicial contra o Iraque, denominada sintomaticamente pelo Pentágono de “Choque e Pavor”, previa uma guerra rápida com intenso ataque aéreo e rápido deslocamento das forças terrestres até as portas de Bagdá. Todavia, ao que tudo indica, dependia para o seu êxito do apoio da população iraquiana, “ansiosa” por ver-se livre do “ditador cruel” Saddam Hussein.
Mas a população iraquiana não agiu como o esperado. Até agora não tem correspondido às expectativas. Pelo contrário, até. Forças não regulares, saídas do meio da população, têm contra-atacado.
Por certo essa confiança equivocada induziu ao erro. Primeiro pela subestimação do contingente de soldados necessários ao cumprimento da missão. Na guerra do Golfo, em 91, foram deslocados pelas forças aliadas para a região do conflito 500 mil combatentes. Agora, as estimativas dão conta de menos de 300 mil, sendo apenas 100 mil dentro do território iraquiano. Especialistas começam a dizer que, face aos objetivos estabelecidos, é muito pouco. Além disso, o excesso de confiança  levou a uma marcha acelerada pelo deserto, do sul até Bagdá, numa linha de mais de 400 km, desde a base até o front. Isso provocou o que os analistas estão chamado de “estreitamento da linha de suprimentos”, deixando-a vulnerável a ataques e à conseqüente ruptura do fluxo logístico. Sem suprimentos adequados não há guerra vitoriosa, por melhor que seja a força de ataque.
Tudo isso parece confirmar o que já estava escrito há 3.000 anos no Tao Te King, livro chinês da saberia Taoísta:

“Não há maior desgraça do que subestimar o inimigo, se eu subestimo o inimigo, corro o risco de perder minhas riquezas. Quando dois exércitos se confrontam em combate, vence o que luta de coração pesado.”

Lao-Tsé

Evidentemente, esse erro inicial, por certo provocado pela arrogância, tende a ser corrigido e a enorme supremacia norte-americana voltará a pesar em breve. Só há uma hipótese de Saddam não ser deposto: a opinião pública norte-americana exigir o fim da guerra pressionada pela morte de seus soldados e/ou pela de muitos civis iraquianos. É nisso que Saddam está apostado ao levar a guerra para ser decidida na já chamada “Batalha de Bagdá”.

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