Diante das grandes atribulações da vida moderna, as pessoas tendem a se queixar da quantidade e da qualidade dos problemas que têm que resolver. De qualquer pessoa pode-se ouvir sem contestar essas reclamações, menos do gerente, aquele que tem responsabilidade de liderança numa organização.
Não podem reclamar porque foram colocados na posição que ocupam, justamente, para resolverem problemas que outras pessoas não conseguem, como muito bem registra Tom Peters em frase já publicada no número 468:
“Faz uns 20 anos que um alto executivo da AT&T me disse que, se lhe apresentassem um problema que ele fosse capaz de resolver imediatamente, haveria algo de errado na organização. Esse problema deveria ter sido resolvido um ou dois níveis mais abaixo. ‘Eu sou pago para me ocupar de questões complexas’.”
Tom Peters, revista HSM Management nº 32
De fato, a principal razão de ser da função gerencial, além da liderança das pessoas, é, justamente, lidar com a inescapável complexidade da vida e do desenvolvimento organizacional, procurando dar-lhe sentido, em busca de soluções para os problemas que surgem quase que de forma ininterrupta. Se não fosse para isso, o gerente / dirigente / líder, em tese, seria dispensável porque outros teriam a capacidade de desempenhar o seu papel.
“…o desafio do desenvolvimento é muito complexo. Se desenvolvimento fosse fácil, todos o teríamos alcançado…”
José Maria Figueiras, diretor do Fórum Mundial
A questão da complexidade da organização e da liderança, embora suspeitada há muito tempo, só recentemente vem ganhando status de constatação científica (ver GH números 201 e 312). Nelson Rodrigues, o nosso genial dramaturgo e insuperável frasista já havia abordado, com seu jeito peremptório, o assunto há tempos.
“A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana.”
Nelson Rodrigues, Continente Multicultural, 07/2002
Desde a “simples” pelada rodrigueana ao macro contexto econômico, a complexidade funciona como uma espécie de constante, conforme nos lembra o festejado economista canadense Galbraith.
“A vida econômica é um processo de ajustes constantes a coisas complexas que nunca ocorreram antes.”
John Kenneth Galbraith
É esta realidade complexa que abomina simplificações ligeiras e que exige do gerente um tipo de aptidão diferenciada para lidar com situações inusitadas e “fora dos padrões”. Um tipo de aptidão que o coloca na posição de praticante e desenvolvedor do pensamento complexo.
“O pensamento complexo é essencialmente o pensamento que lida com a incerteza e é capaz de conceber organização.”
Edgar Morin, Jornal do Brasil, 05.09.1998
Quem ocupa, portanto, um cargo gerencial numa organização qualquer, não pode queixar-se da dificuldade dos problemas que tem que enfrentar. Pelo contrário: deve até desconfiar se eles não aparecerem complexos…
10 Anos Hoje
Com a publicação do presente número, o Gestão Hoje completa 10 anos de circulação ininterrupta. Publicado pela primeira vez em março de 1994, tem procurado cumprir o desafiador papel de veículo de síntese e atualização sobre o que está na ordem do dia da gestão empresarial. Na oportunidade, agradecemos aos leitores o estimulante apoio que nos têm dado.