Terá sido o "abril vermelho"prenúncio do fim do governo Lula?

 
“Abril é o mais cruel dos meses, fazendo germinar lilases da terra morta, misturando memórias e desejos.”
T.S. Eliot, 1888-1965, poeta norte-americano
Os versos do poema “A Terra Desolada” , escrito em 1920 por Eliot, não poderiam ser mais adequados ao que está acontecendo este mês, em que o MST jurou pintar de vermelho no Brasil, com repercussões importantes para o governo Lula: guerra de traficantes na favela da Rocinha no Rio de Janeiro; desempregado ateando fogo ao próprio corpo em frente ao Palácio do Planalto; massacre de garimpeiros pelos índios cinta-larga na reserva Roosevelt, em Rondônia; violenta rebelião de presos, com requintes de inimaginável barbárie, no presídio Urso Branco em Porto Velho, também em Rondônia; apreensão de minas terrestres, que nem mais as forças armadas possuem dado seu altíssimo poder de destruição, em poder de traficantes no Rio de Janeiro; invasões de terras, terrenos e prédios por militantes do MST e do movimento dos sem teto, por todo o país.
“Algo de profundamente errado deve estar acontecendo a um país onde o tráfico armado tem poderes territoriais, índios massacram brutalmente invasores de reservas desprotegidas, presos rebelados degolam e decapitam colegas e um desempregado ateia fogo às vestes em frente ao palácio presidencial, entre outros fatos desse abril que o MST ajuda a fazer mais negro que vermelho.”
Tereza Cruvinel, O Globo, 20.04.2004
Por certo, o que está acontecendo de errado é sobremaneira influenciado por um fator estrutural que são os quase 25 anos de desempenho medíocre da economia e, na expressão do economista Paulo Nogueira Batista Jr., “na sua incapacidade crônica de proporcionar oportunidades satisfatórias para a grande maioria da população (…) toda uma geração que simplesmente não sabe o que é desenvolvimento.” Além desse fator estrutural, há dois outros conjunturais que, certamente, influenciam: (1) o mal exemplo dado pelo Rio de Janeiro; e (2) a inação do governo Lula diante dos fatos recentes.
“O Rio de Janeiro é o símbolo da civilização brasileira. Cidade maravilhosa não apenas pela beleza mas também por seu grau civilizatório. E o que acontece nesta cidade-símbolo passa uma mensagem perniciosa para o resto do Brasil, a de que tudo é permitido, porque a autoridade fraqueja e prevalece o vale-tudo.”
Roberto da Matta, O Globo, 20.04.2004
A esse sério mal exemplo de descontrole dado pelo Rio, agravado pelo espetáculo, que seria cômico se não fosse trágico e deprimente, protagonizado pelo dublê de primeiro “damo” e secretário de (in)Segurança, Antony Garotinho, junta-se a inércia do governo Lula.

“Cada sociedade rompe os limites do suportável a seu modo. A convulsão social tem muitos nomes e formas, inclusive a barbárie. (…) Está na hora de uma atitude. Para usar uma metáfora futebolística, ao gosto do presidente, está na hora de ele começar a apresentar cartões amarelos e vermelhos a alguns grupos e atores sociais, enquanto há tempo para se prosseguir com o jogo.”

Roberto da Matta, O Globo, 20.04.2004
Tomara que o “abril vermelho” tenha sido uma infeliz e trágica coincidência de tragédias e, não, o prenúncio do ocaso do governo. Nem Lula, nem o PT merecem, nem o país suporta um fim tão melancólico e perigoso.