Nuvens muito carregadas começama se formar sobre o confuso governo Lula

 
Dizia-se que durante o governo Fernando Henrique Cardoso, as crises que entravam no Palácio do Planalto saíam menores. No governo Lula, acontece, justamente, o inverso: as crises saem bem maiores do que entram.
Foi exatamente isso que aconteceu nas duas últimas grandes crises nas quais o governo, por mérito próprio, atuou como amplificador. No caso Waldomiro Diniz, a máquina de aumentar crises do Planalto recebeu um caso documentado de solicitação de propina e expeliu uma medida provisória proibindo o bingo no país. O resultado foi uma reação enorme dos funcionários e usuários dos bingos e uma derrota desmoralizante no Congresso. No caso mais recente, entrou no Planalto uma reportagem medíocre escrita pelo correspondente do jornal New York Times no Brasil e saiu a cassação do visto do repórter autor da matéria, o que terminou por produzir uma comoção geral, uma desautorização da Justiça e uma volta atrás humilhante.
“O episódio explicitou mais uma vez a fragilidade da administração petista em momentos de crise, a falta de sofisticação intelectual para tomar certas decisões e o isolamento do presidente do mundo real.”
Fernando Rodrigues, Folha de S. Paulo, 15.05.2004
Essa fragilidade que fica cada dia mais evidente torna-se, no momento atual, muito mais preocupante em razão da rápida deterioração da conjuntura internacional, com, pelo menos, três fatores de perturbação que podem ter impactos severos sobre a realidade econômica do país: (1) a alta dos juros nos EUA; (2) a elevação do preço do petróleo; (3) a desaceleração da economia da China.
Já há algum tempo o presidente do Fed, banco central dos EUA, Alan Greenspan, vem sinalizando o aumento dos juros básicos para frear o consumo e as pressões sobre a inflação norte-americana. Hoje, não se questiona se ela virá ou não mas quando isso acontecerá. Alguns chegam a prever o aumento já para esse mês, outros transferem a data limite para agosto.
Quando isso acontecer, diminuirá o fluxo de investimentos em moeda forte para os países emergentes, dentre os quais o Brasil que depende criticamente desses recursos para fechar suas contas externas. Os investidores tenderão a direcionar suas aplicações para os papéis do Tesouro do EUA, considerados os mais seguros do mundo.
A essa ameaça, já antecipada há pelo menos seis meses, vem juntar-se, agora, o aumento recorde dos preços do petróleo. Na semana passada, o barril chegou a ser cotado a US$ 41,50 – o maior valor da história – e, segundo os analistas, sua queda não será tranqüila. Alguns, como é o caso do renomado economista norte-americano Paul Krugman, chegam a vislumbrar na atual escalada componentes estruturais preocupantes.
“O choque entre a demanda em rápido crescimento e uma oferta limitada é o motivo pelo qual o mercado de petróleo está tão vulnerável a oscilações. Talvez consigamos passar por este mal momento e o petróleo caia novamente para US$ 30 o barril. Mas seria apenas um alívio temporário.”
Paul Krugman, 08.05.2004
O terceiro fator, a queda do crescimento econômico da China, preocupa porque provocará quebra da demanda por commodities e, assim, dos preços e volumes das exportações brasileiras, responsáveis pelos excelentes saldos comerciais do Brasil nos dois últimos anos.
É, justamente, essa conjuntura de nuvens carregadas que se formam sobre a economia do país que o confuso governo Lula terá que enfrentar dentro em breve. Pelas mostras dadas até agora, terá dificuldades em fazê-lo.

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