Atuação de Lula nos Fóruns Mundiaisreafirma importância internacional do Brasil

 
 
 
O Gestão Hoje anterior (número 519) tratou, em essência, da dúvida sobre o futuro do país. Promissor para uns, seriamente ameaçado, por conta das dificuldades do presente, para outros.
Só para dar uma idéia de como essa dúvida encontra-se disseminada, a seguir comentário de um leitor do GH anterior:
“Desde criança vivo sob o signo de Stefan Zweig de que o Brasil é ‘o País do Futuro’. Passados 60 anos da famosa declaração de Zweig, a CIA e o Goldman Sachs fazem as mesmas previsões. Particularmente, continuo cético e descrente. O Brasil está entrando numa nova onda de ilusões. Seremos o país do presente em 2020, só que a dívida interna continua crescente, os juros altíssimos e o estado tão voraz quanto ineficiente.”
Comentário de um leitor do Gestão Hoje 519
(Stefan Zweig foi um escritor austríaco de origem judaica, contemporâneo, amigo e admirador de Sigmund Freud, que aportou no Brasil fugido do nazismo e, em 1941, encantado com o que encontrou aqui, escreveu o livro “Brasil, País do Futuro”. No ano seguinte, de certa forma renegando o que escreveu, suicidou-se em Petrópolis, onde havia fixado residência).
Outro leitor, discordando da interpretação de agravamento dos indicadores da economia, fez o seguinte comentário:
“Temos que interpretar os dados divulgados de forma relativa, ou seja, a dívida pública caiu em 2004 de 57% para 51% do PIB e a carga tributária deste ano, em termos percentuais, foi menor do que a do ano de 2002. Quanto aos juros, já tivemos patamares bem mais elevados. Além disso, houve recorde na balança comercial. Conclusão: o cenário econômico melhorou bastante em 2004.”
Comentário de outro leitor do Gestão Hoje 519
O mais desconcertante é que os dois têm razão. Tanto o futuro fica ameaçado pelas dificuldades do presente, quanto o presente dá mostras, mesmo tímidas, de que tem evoluído em direção ao futuro projetado como promissor.
Se é assim, então, a pergunta que fica é: o que vai acontecer, mesmo? Uma pergunta, aliás, impossível de responder com qualquer grau de precisão, a não ser aquela que a intuição ou a crença são capazes de forjar no íntimo de cada um.
O Gestão Hoje tem manifestado, de diversas maneiras, sua crença na tese do avanço lento mas positivo em direção ao cenário mais otimista (ver, por exemplo, o número 516).
Evidência disto foi o recente périplo do presidente Lula pelos Fóruns Mundiais acontecidos, simultaneamente, na semana passada (ele foi, aliás, o único chefe de estado a participar dos dois fóruns). Em Davos, Suíça, o Econômico, em Porto Alegre, seu contraponto, o Social. Em Porto Alegre, entre vaias e aplausos simultâneos, cumpriu o papel do líder histórico de esquerda que, no poder, faz o que é possível sem abrir mão dos ideais. Em Davos, no dia seguinte, diante de uma platéia atenta, cumpriu o papel do líder progressista que chama o mundo à responsabilidade pelo combate conseqüente à miséria e à fome.
Claro que a biografia pessoal do presidente é determinante no bom desempenho desses papéis. Todavia, se o Brasil já não ocupasse uma posição de peso no cenário internacional, a repercussão dessa atuação importante seria mínima para não dizer nula.
Uma conclusão possível é que avançamos, lentamente, “aos trancos e barrancos”, como disse Darcy Ribeiro, mas avançamos.

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