Com o final da Copa do Mundo e a vitória da Itália, ficam mais evidentes algumas lições da derrota da seleção brasileira. A primeira delas é a de que, ao contrário do que esperava o país.
“Nossa seleção não foi a pátria de chuteiras, como dizia o Nelson Rodrigues, foram as chuteiras sem pátria.”
Arnaldo Jabor, Rádio CBN, 04.07.06
A maioria dos jogadores convocados e dos que jogaram não atua no Brasil e, sim , em clubes europeus e estão distantes, tanto física quanto psicologicamente, do país. Pelo que mostraram as TVs, dos 23 convocados, apenas 4 ou 5 voltaram para o Brasil. O restante ficou na Europa, distante da frustração e da cobrança da torcida nacional.
“O povo todo estava de chuteiras, para esquecer os mensalões e os crimes, mas nossos craques não perderam quase nada com a derrota, tiveram apenas um mal momento entre milhões de dólares e chuteiras douradas pela Nike.”
Arnaldo Jabor, O Globo, 04.07.06
Embora esse fato faça parte da realidade do futebol, é preciso tratar melhor o assunto dada a importância que o futebol tem para o imaginário brasileiro (ver a respeito o GH/593). Na prática, o que se viu foi uma seleção “sem alma”, na expressão do cronista futebolístico Armando Nogueira (ver GH/594), em boa parte decorrente dessa “distância” dos jogadores da realidade nacional. A outra parte deveu-se à atuação apática do treinador Parreira.
“Todos sabem que quem ganha e perde partidas é a alma.”
Arnaldo Jabor, O Globo, 04.07.06
E faltou alma aos jogadores e à seleção. Na partida contra a França, nem parecia que estavam jogando uma partida de vida ou morte. Deixaram a França jogar e fazer o show, sobretudo Zidane que chegou a dar um “chapéu” em ninguém menos que Ronaldo Fenômeno que, de fenômeno naquele jogo não teve nada. Completamente diferente dos jogos finais, onde a alma dos finalistas esteve sempre presente, a começar pelo time de Portugal e por seu técnico.
“A alma de Portugal rosna na beira do gramado. Ela se chama Felipão.”
Armando Nogueira, Rádio CBN, 05.07.06
O outro aspecto deplorável foi a atuação do técnico Parreira que não esteve à altura do cargo, entre apático, arrogante e completamente míope do ponto de vista estratégico, como demonstra a impressionante frase cometida na entrevista após a derrota:
“Não nos preparamos para perder. Só nos preparamos para a vitória.”
Carlos Alberto Parreira, Rede Globo, 02.07.06
Essa simples frase é um misto de tolice, teimosia e estupidez estratégica. Só se preparar para a vitória, significa desprezar e desconhecer os adversários. Significa não se preparar para o pior cenário e ficar refém dos adversários, justamente por desconhecê-los e desprezá-los. No meio empresarial, uma atitude desse tipo é suicida. É impossível ter sucesso nos negócios sem um plano B.
“Todo empresário com os pés no chão tem um plano B pronto para ser acionado. Não houve análise dos pontos fortes e fracos dos concorrentes. Acreditamos que venceríamos porque queríamos. É um erro fatal no futebol e nos negócios.”
Pedro Eberhardt, presidente da Arteb, Dinheiro, 12.07.06