Se "quem tem vontade, já tem a metade",de que se compõe a outra metade que falta?

 
É verdade. “Quem tem vontade, já tem a metade”, como foi visto no Gestão Hoje anterior (ver GH/639). Todavia, não custa lembrar: é só a metade pois falta a outra parte. Vale a pena, a esse respeito, reproduzir a frase do técnico Bernardinho que finalizou o número passado:

“A vontade de se preparar tem que ser maior que a vontade de vencer.”

Bernardinho, técnico de vôlei brasileiro

Para completar a outra metade, portanto, a preparação é indispensável. Caso contrário, o risco do voluntarismo é imenso. A própria sabedoria popular já consagrou, numa expressão, o voluntarismo apressado, desacompanhado de preparação, infelizmente bastante comum:

“Rápido e mal feito.”

Expressão Popular

Pessoas cheias de iniciativa, fazendo besteiras, desperdiçam a dádiva da vontade de fazer com a irreflexão e/ou falta de preparação. Terminam virando caricatura e, não raro, tornam-se pessoas indesejadas pelo prejuízo que causam, conforme atesta outro ditado popular:

“Apressado come cru.”

Expressão Popular

Para evitar o desperdício da iniciativa, é preciso, portanto, cuidar muito da preparação. Se isso sempre foi verdade, muito mais é nos dias atuais com a rapidez das mudanças e a verdadeira avalanche de informação que inunda nosso dia-a-dia. Não se pode, por exemplo, fazer um curso universitário e valer-se do que foi aprendido pelo resto da vida. Pode-se dizer, sem medo de errar, que o curso universitário é, apenas, o bilhete de entrada. Aprendizado constante é que leva à criatividade eficaz.

“A criatividade não é um ponto de partida — é um ponto de chegada. Criativo é quem é capaz de aliar o melhor daquilo que herdou da natureza ao aprendizado.”

Domenico De Masi, sociólogo italiano.

Ou seja, ter herdado ou desenvolvido a força de vontade, o “elã vital” de Bergson (ver GH/639), não é suficiente, embora seja indispensável. A conseqüência exige aprendizado.  O oposto do “rápido e mal feito” é o “bem feito demorado”, muitas vezes intempestivo nos nossos dias de rapidez alucinante. Hoje o desafio é fazer rápido e bem feito. Os erros, mais do que antes, podem ser fatais. Daí, a necessidade de adotar o lema norte-americano da qualidade que terminou sendo assumido pela Toyota no seu sistema de produção que tornou-se referência mundial (o “toyotismo” em substituição ao “fordismo”):

“Fazer certo da primeira vez.”

Lema da Toyota

Só que fazer certo da primeira vez requer muita preparação e cuidado, não sendo, evidentemente, uma coisa que se consiga com facilidade. Daí, a necessidade de preparação, de aprendizado, de treinamento, referida por Bernardinho. Isso merece especial atenção no Brasil, onde existe bem disseminado o costume cultural da irreflexão e do improviso (atenção: improviso é diferente de criatividade, conforme assinala Domenico De Masi). Só para comparar com os referidos japoneses, vale a pena prestar atenção no que diz um atento observador externo:

“Os japoneses são lentos na decisão e rápidos na execução. Os brasileiros são exatamente o contrário.”

Lester Thurow, economista americano

Pensar o suficiente, planejar o necessário e executar o rápido possível. Talvez essa seja a fórmula correta que nos ensinam os japoneses. A vontade entra aí como motor indispensável, desde que, evidentemente, acompanhada pela preparação, pela reflexão, pelo aprendizado, os componentes necessários da outra metade faltante.