Com a retomada mundial da inflação, o custo do controle no Brasil pode ser bem alto

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Há pelo menos vinte anos, o mundo tem vivido, do ponto de vista econômico, uma era de estabilidade que se caracterizou por baixa inflação e, nos cinco últimos anos, por um ritmo de crescimento acentuado, o maior desde a Segunda Guerra Mundial.

“Durante as últimas décadas, a inflação caiu sensivelmente no mundo inteiro, assim como a volatilidade da economia.”

Alan Greenspan, ex-presidente do Fed, dezembro/2007

Segundo Alan Greenspan esse fenômeno ocorreu em grande medida devido à globalização, ao desenvolvimento tecnológico e à entrada da China na economia mundial, produzindo produtos industrializados a preços baixos. Agora, todavia, a situação está mudando: a inflação ameaça retornar e o crescimento deve arrefecer por conta da crise habitacional nos EUA. Foi o próprio crescimento da demanda que terminou elevando os preços das commodities e está provocando a pressão sobre as taxas de inflação.

“Os preços de energia, de alimentos e de matérias-primas começam a pressionar os índices de inflação e ameaçam superar os efeitos deflacionários da escalada industrial chinesa.”

Luiz Gonzaga Beluzzo, professor da Unicamp

Nos últimos cinco anos houve grande crescimento dos preços do petróleo (350%), minério de ferro (330%), arroz (150%), trigo (145%), milho (100%), dentre outros. Essas elevações aconteceram em decorrência do aumento da demanda e da especulação pós-crise dos EUA.

“A era da comida barata acabou. O preços dos alimentos vai continuar alto pelos próximos 10 anos.”

Jornal das Dez, GloboNews, 01.06.08

A manchete da GloboNews estava anunciando as conclusões preliminares da reunião da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em realização na cidade de Roma. Com a manutenção dessa tendência de alta dos preços dos alimentos, junto com os preços elevados do petróleo e das commodities metálicas, a inflação fica pressionada em especial nos países emergentes. Com isso, informa a revista The Economist, 2/3 da população mundial vai conviver, em 2008, com uma inflação na casa dos dois dígitos.

“A revista The Economist desta semana traz uma matéria muito interessante sobre inflação. A revista diz que pelo menos dois terços da população mundial já vive com inflação de dois dígitos.”

Míriam Leitão, O Globo, 25.05.08

No Brasil, infelizmente, o fenômeno também está se manifestando como efeito da tendência mundial e do aumento interno da demanda (crescimento econômico e maior disponibilidade de crédito).

“A inflação está acelerando em quase todos os 185 países-membros do FMI. No Brasil, existe um componente cuja influência é difícil de avaliar, que é o aumento da demanda. (…) O ideal é ter disciplina fiscal e adotar medidas pontuais para controlar o crédito.”

Paulo Nogueira Batista Jr., diretor do FMI

Depois de 15 anos de controle da inflação no Brasil, a responsabilidade tem pesado apenas para o Banco Central (política monetária). É chegada a hora do setor público dar a sua contribuição com uma política fiscal conseqüente. Sem isso, os custos serão muito altos pois o único remédio à disposição do Banco Central é o aumento dos juros básicos que já são os maiores do mundo.