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Nas últimas semanas, junto com alguns números bem ruins sobre os efeitos estatísticos da crise financeira internacional, começam a aparecer notícias positivas como, por exemplo, lucros dos bancos norte-americanos e a recuperação das bolsas de valores. A pergunta que todos começam a fazer é se o pior da crise que começou nos EUA já passou e se os sinais positivos seriam indícios do início da recuperação. Há muitas opiniões entre os analistas. Um bloco acha que o pior já passou outro que não. No excelente programa Globo News Painel do fim de semana passado, foi manifestada uma opinião que merece ser reproduzida.

“O ritmo de piora diminuiu muito mas o fundo do poço ainda não passou. O que passou foi o pânico.”

Simão Silber, economista da USP

Também na semana passada, a revista Exame promoveu, em São Paulo, o Fórum “A Crise Global e as Alternativas para a Reconstrução da Economia”, com a participação dos prêmios Nobel Edward Prescott, Joseph Stiglitz e Robert Mundell. Falou-se de tudo e até um novo sinal para designar a retomada foi incorporado à galeria de letras (V, U, L, W) (ver a propósito GH/737) por Joseph Stiglitz.

“Para Stiglitz, a trajetória da crise não seguirá o desenho usual dos teóricos, como um ‘V’ ou um ‘U’, isto é, um momento de forte queda, seguido por uma fase no fundo do poço, e uma retomada rápida. Para o ganhador do Nobel de 2001, o caminho da crise será mais parecido com uma ‘raiz quadrada de ponta-cabeça’. Para o economista, haverá uma fase de recuperação e, após um pico, um certo recuo, até que o mundo se estabilize em um novo patamar. ‘É muito difícil ter certeza, mas é possível que continuemos sentindo esse mal estar, essa recuperação lenta’, disse.”

Portal Exame, 11.05.09

Apesar dos otimistas de plantão (e os há, tanto quanto os pessimistas), as análises mais pé no chão induzem a acreditar que a recuperação virá, sim, mas será lenta e, sobretudo, dadas as dificuldades estruturais consolidadas pela eclosão da crise, em um patamar bem inferior ao verificado nos últimos cinco anos de crescimento vigoroso da economia mundial, conforme alerta o economista professor da Universidade de Berkeley, Califórnia.

“Mesmo se a economia norte-americana retomar seu ritmo em alguns meses, o crescimento subseqüente será pífio. Os bancos não vão retomar os empréstimos do dia para a noite; as famílias só vão voltar a comprar quando seus fundos de aposentadoria forem recompostos; e a combinação atual de política fiscal frouxa com uma política monetária cada vez mais rígida vai produzir, no futuro, um ambiente ruim para os investimentos.”

Barry Eichengreen, Folha de S. Paulo, 10.05.09

É preciso não esquecer que o estrago feito no setor financeiro, com reflexos muito importantes para a economia real, foi muito grande. Vários analistas comparam a situação atual dos EUA à do Japão na década de 90. Foram dez anos de crescimento “pífio” porque, depois de uma crise provocada por uma bolha imobiliária, o governo não fez os ajustes necessários nos bancos como, dizem, Obama também não está fazendo agora. O certo é que essa crise ainda vai dar muito o que pensar e falar.

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