Mais do que talvez nunca antes na história das corporações, um conflito entre as empresas e os jovens qualificados que chegam ao mercado de trabalho ameaça o futuro do emprego
Pesquisas recentes quantificam um fenômeno que há tempos já dava mostras de atuação sobre a realidade das empresas. E o que mostram é preocupante: parece estar se abrindo um fosso entre gerações.
“No ano passado, 730 mil universitários e recém-formados se candidataram a 2.334 vagas de estágios e trainees de algumas das mais cobiçadas empresas, entre as quais Microsoft, Sadia, Nestlé, Itaú-Unibanco, Braskem, Unilever. Apesar da abundante oferta de mão de obra — cerca de 3.100 candidatos por vaga — vinda das melhores faculdades do país, 10% dos postos não foram preenchidos (…) Uma pesquisa (…) concluída no mês passado, com 31 mil universitários, mostra que o assunto é mais complexo e revela um conflito geracional — as empresas não estão entendendo os jovens, formados na chamada era da informação. E os jovens não entendem o que as empresas pedem.”
Gilberto Dimenstein, Folha de S. Paulo, 27.09.09
O lado positivo dessa tendência é apontado por outra pesquisa recém-lançada, a Global Entrepreneurship Monitor (GEM) que abrange 43 países, dentre eles o Brasil:
“Em 2008, jovens profissionais de 18 a 34 anos estavam à frente de 6 milhões de novas empresas abertas no país — o equivalente a 61% do total desse tipo de negócio.”
Revista Exame, 23.09.09
Diferentemente da tendência anterior, esses jovens protagonizam o que se tem chamado de empreendedorismo “por opção”, no lugar do empreendedorismo “por necessidade”, embora impulsionado pelo conflito geracional.
“Boa parte desse ímpeto dos jovens em abrir o próprio negócio advém da dificuldade das grandes empresas em absorver e lidar com novos talentos. A chamada geração Y — jovens nascidos entre os anos 80 e 90 — foi talhada para contestar muitos dos velhos valores corporativos. São indivíduos criados sob a égide do mundo digital, com um repertório de informações incomparavelmente maior que as gerações anteriores e com um traço de personalidade marcantemente impaciente, volúvel e insubordinado.”
Revista Exame, 23.09.09
Talvez mais do que nunca antes na história das corporações, esse fenômeno se apresenta de forma tão aguda que aponta para a necessidade de adaptação de ambos os lados do conflito, sob pena de colocar em questão o próprio futuro do emprego.
“O jovem terá de mudar de atitude para trabalhar e as empresas terão de mudar seu ambiente de trabalho para atrair talentos. Nem um lugar fechado que iniba a criatividade — nem tão aberto que pareça a casa dos pais, onde não existe frustração. Nessa combinação, talvez esteja o futuro do emprego.”
Gilberto Dimenstein, Folha de S. Paulo, 27.09.09