O preconceito contra os nordestinos e a atitude pedagógica da OAB Pernambuco

A percepção equivocada de que a vitória de Dilma se deu pelos votos dos nordestinos desencadeou uma onda de preconceito no Twitter, competentemente combatida pela OAB-PE
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A percepção equivocada de que a vitória de Dilma Rousseff deu-se graças aos votos do Nordeste desencadeou na semana passada uma nova rodada de preconceitos contra os naturais da região, desta vez iniciada no Twitter. O pivô foi a postagem de uma estagiária de direito de um escritório de São Paulo.

“Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado.”

Mayara Petruso
Os números da apuração da eleição são evidentes: a votação que Dilma recebeu nas outras regiões já lhe deu uma dianteira de 1,3 milhão de votos ou 0,9 ponto percentual.

“Em que pese a larga margem conquistada por Dilma Rousseff sobre José Serra em Estados do Nordeste, a petista venceria o pleito mesmo se os votos da região não fossem computados.”

Editorial Folha de S. Paulo
Essa matemática irrefutável todavia não foi suficiente para impedir que o velho preconceito, com epicentro em São Paulo, ganhasse o mundo pela internet.

“O preconceito entre determinado tipo de paulistanos contra os nordestinos existe e, assim como o preconceito racial, não é discutido nem assumido. Não são poucos os que vêem os migrantes (assim como eram vistos imigrantes) não como gente disposta a prosperar e trabalhar, mas estorvos que geram pobreza e mesmo a violência. Crianças paulistanas acostumam-se a ouvir o substantivo ‘baiano’ transformado em adjetivo genérico e negativo para os nordestinos.”

Gilberto Dimenstein, jornalista da Folha de S. Paulo
Por conta disso, várias postagens vieram no rastro da primeira. Todas com o ranço impressionantemente forte do preconceito, como se pode ver pelos exemplos abaixo:

“Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar os vagabundos que fazem filho para ganhar o bolsa 171.”

“Os miseráveis e ignorantes do Norte/Nordeste que sempre viveram de esmolas do estado + uma vez decidem uma eleição. Vcs são escória!!.”

“O #nordeste é um lugar onde nós, pessoas brancas de classe média alta, vamos fazer turismo sexual comendo umas baianinhas vagabundas.”

Revista Época, 08.11.10
Sem perda de tempo, a Ordem dos Advogados do Brasil seccional Pernambuco deu entrada em uma notícia-crime contra a autora da postagem original no Ministério Público Federal visando à abertura de ação penal pelos crimes de racismo e por incitação à prática de homicídio na internet.

“O crime de racismo, previsto na legislação, é imprescritível e inafiançável e é preciso reagir a esse tipo de coisa. As pessoas têm que se responsabilizar pelo que defendem e postam.”

Henrique Mariano, presidente da OAB-PE, Gazeta/PR
Assim como a inteligência, talvez o preconceito seja um traço comum da humanidade, inclusive dos nordestinos, que também têm os seus. Uma coisa é tê-los, outra muito diferente é externá-los num meio de comunicação de massa em que se transformou hoje a internet, em especial o Twitter. Daí, a importância da ação pedagógica da OAB-PE. As pessoas ainda não se deram conta de que o Twitter e outras redes sociais não são uma ação entre amigos. Não se pode pensar uma postagem como uma conversa numa mesa de bar. Infelizmente alguns terão que pagar o preço desse aprendizado…