Diante de uma conjuntura internacional bastante mais adversa do que aquela enfrentada pelo seu antecessor, o governo Dilma Rousseff deve reforçar sua atenção para o mercado interno
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Prestes a receber o governo do já mítico presidente Lula, Dilma Rousseff deve se deparar com um cenário externo bem mais desfavorável do que o enfrentado por seu antecessor no início do mandato.

“Lula pegou o governo quando vinha ventania de popa. Dilma vai receber o governo com ventania de proa. A ajuda que o crescimento da economia mundial deu ao período Lula está terminando ou já terminou. Neste novo cenário, você vai precisar de muito mais força do mercado interno se quiser manter seu ritmo de crescimento para continuar a distribuir renda.”

Delfim Netto, Revista Época, 06.11.10
De fato, puxada pelo crescimento dos países desenvolvidos e da China, a economia mundial experimentou de 2003 a 2008 um período de aquecimento sem precedentes na história recente. Todavia, depois da crise do mercado imobiliário norte-americano que afetou dramaticamente o setor financeiro e “transbordou” para a Europa, o cenário mudou drasticamente, invertendo a mão do crescimento na direção dos emergentes, com a China passando a funcionar como locomotiva principal desta nova fase. Nela, o Brasil aumentou a sua dependência da economia chinesa.

“Hoje a China já é nosso maior parceiro comercial. Sozinha consome 36% de todas nossas exportações de produtos primários contra apenas 5% dos nossos produtos industrializados. Comparativamente, os EUA compram 7% de nossos produtos primários e 12% dos industrializados. (…) hoje nos encontramos na delicada situação de estar dentro de um avião que tem 3 de suas 4 turbinas avariadas e que para sair da grande zona de turbulência que tem pela frente depende da turbina que resta funcionando a todo vapor, além da ajuda proveniente do sopro de seus passageiros, para ficar no ar.”

Ricardo Dunshee, www.investimentosenotícias.com.br
A imagem do avião é muito interessante porque como que de repente a economia mundial passou a depender muito de uma das “turbinas”, a chinesa, em detrimentos das outras três, a norte-americana, a européia e a japonesa que estão, por hora, avariadas. Por isso, a demanda dos EUA para que a China desvalorize a sua moeda para dar maior competitividade aos produtos norte-americanos, é um problema menor face ao risco de uma desaceleração brusca da economia chinesa (problemas na única “turbina” que está “funcionando”).

“Um estouro da bolha chinesa faria o problema do yuan fraco parecer um estalinho de São João.”

Vinicius Torres Freire, jornalista Folha de S. Paulo
É, justamente, esse cenário internacional que a presidente Dilma vai enfrentar: EUA e Europa com sérios problemas de recuperação (alguns especialistas já falam em uma década de ajuste, mesmo tempo que já leva o Japão enfrentado problema semelhante). Começando por este, outros desafios se apresentam:
1. superar um ambiente mundial mais adverso que o do seu antecessor;
2. desatar o “nó” monetário-cambial-fiscal (juros altos, câmbio valorizado, gastos elevados);
3. manter o “tripé” da estabilidade (ajuste fiscal, câmbio flutuante, metas de inflação);
4. aumentar a competitividade brasileira (infraestrutura, educação, tributos); e
5. Entregar um país melhor ao sucessor.
Esses parecem ser os macrodesafios da presidente Dilma numa conjuntura internacional mais adversa. Sem ter muito o que fazer para enfrentar o cenário externo, os olhares da presidente e da equipe que acaba de formar se voltam “para dentro”, onde Delfim diz que o próximo governo terá que buscar forças para manter o crescimento e a distribuição de renda. Os entraves internos para isso são, justamente, o tema do próximo Gestão Hoje.

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