Outsider da política profissional, a presidente Dilma Rousseff está diante de um desafio político que terá que superar a contento dentro do prazo tradicional dos primeiros 100 dias de governo
Existem pessoas que passam a vida inteira tentando ser presidente da República e não conseguem. Outras, entre as quais a presidente Dilma Rousseff, nunca tinham pensado sequer nesta alternativa até que o cavalo selado passou nas suas frentes e elas montaram. Neste rol estão também José Sarney e Itamar Franco, só para ficar nos mais recentes. Diz-se que Antônio Carlos Magalhães, um que sempre sonhou com a presidência sem que tivesse sequer chegado perto de consegui-la, gostava de citar uma frase de Napoleão.
“Política é destino.”
Napoleão Bonaparte, 1769-1821, imperador francês
Uma coisa, todavia, é ser bafejado pela sorte e conseguir chegar na presidência, outra bem diferente é se sair bem nela. A história das administrações bem sucedidas parece conferir à economia um papel fundamental, pelo menos no que diz respeito à presidência da República. A esse respeito, é clássica a resposta atribuida ao estrategista da campanha de Bill Clinton, em 1992, a quem perguntaram qual devia ser o tom da estratégia de campanha do candidato.
“É a economia, estúpido.”
James Carville, consultor político norte-americano
Apesar de Dilma Rousseff, no que diz respeito à conjuntura internacional, enfrentar uma situação mais desfavorável do que o seu antecessor (ver GH/809), na média deve lidar com uma situação econômica sem maiores problemas dentre os quais um ajuste fiscal no início do governo. Se não deve enfrentar grandes problemas econômicos, então, o “x” da questão passa a ser político.
“Do ponto de vista econômico, as perspectivas são boas. O caminho está pronto. É óbvio que haverá um ajuste fiscal e isso até poderá beneficiá-la. Do ponto de vista político, ela tem um desafio: a constituição de uma personalidade política e a capacidade de governar. Em tese, se a gente comparar o governo Lula com o governo Dilma, ela terá mais facilidade no Congresso. A questão é: Dilma não tem a liderança de Lula. O desafio dela é político.”
Aldo Fornazieri, cientista político paulista
Esta constatação é reforçada pelo fato de Dilma ter tido, de fato, pouca experiência política e nenhuma eleitoral antes da candidatura à presidência.
“Dilma só ocupou postos de natureza técnica no governo. Isso não é impossível, mas se ela não souber, de maneira satisfatória, construir a sua liderança política – seja do bloco governista no Congresso, seja entre a própria população –, então ela terá dificuldade.”
Aldo Fornazieri, cientista político paulista
Esse desafio é reforçado pelo fato de o destino ter caprichado e as circunstâncias terem favorecido a eleição para a suprema magistratura do país de uma outsider da política. Dilma, ao contrário de José Serra por exemplo, pelo fato de nunca ter aspirado à presidência, não fez carreira política nem moldou uma trajetória nesta direção. O resultado, portanto, ainda é um incógnita grande.
“No curso da história brasileira, poucas pessoas chegaram à Presidência da República com tão escassas informações sobre suas habilidades políticas e administrativas quanto Dilma Roussef.”
Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal
Tudo isso reforça a constatação de que o principal desafio da presidente Dilma é político. Seja do ponto de vista da política pragmática junto à classe política profissional, incluindo o Congresso Nacional (atualizado pela nova Legislatura neste 01.02.2011), seja no relacionamento com a população e a opinião pública, em especial pelo contraste com o seu antecessor, um mestre nesta arte. A construção desta persona política, pelo menos em seus contornos principais, terá que ser feita dentro do famoso prazo dos primeiros 100 dias de governo. É esperar para ver no que dá.